DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Todas essas mulheres

“E delas, o que vier, virá um cheiro de arruda que purifica o altar das mais humildes capelas”.

Parabéns para as mulheres de todas as cores, de todos os sonhos, loiras, morenas, negras e ruivas neste oito de março, quente e cheio de sol. Hoje é um dia especial para elas. Exaltemos essas valorosas lutadoras – pura sedução e charme – portando nos lábios um sei-lá-o-quê de orquídea e rosa, iguais às outras na coragem, desventuras e descompassos do coração. Tão sensíveis que um nada lhes põe água nos olhos, segundo Flaubert.

Aplausos para as indefesas nascidas sob o domínio de avós, além da própria mãe e das histórias contadas por elas. Submissas e obedientes por medo do desconhecido, da maledicência e dos castigos de Deus. Poucas, guerreiras, fugiram para casar com seus homens eleitos. Fugiram, não da casa-mãe, mas do lar paterno, escapando de se casarem com os amigos do pai, sem terem opção de escolha. Aprenderam a engolir choro. E engolir choro é pior do que engolir fogo. Aos poucos, tão arcaicas quanto um vestido antigo de cauda longa, foram conquistando, a duras penas, o seu espaço no mundo.

Para elas, uma coroa de saudades.

No século dezenove, um grupo de americanas – operárias têxteis – revolucionou a fábrica Cotton, em Nova York, reivindicando direitos inimagináveis. Num incêndio proposital, cento e vinte e nove delas foram mortas. A luta continuou e só em 1910, durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, foi instituído o dia oito de março como o Dia Internacional da Mulher. O reconhecimento veio em 1975, em nível de mundo, quando a Organização das Nações Unidas oficializou a data. Estamos no terceiro milênio e muitas ainda levam uma vida de dependência e submissão. A brasileira teve acesso à educação formal há pouco mais de um século, e só, em 1934, lhe foi dado o direito ao voto.

Daí então, essas lutadoras ultrapassaram obstáculos, venceram preconceitos, mostrando competência para assumir qualquer atividade além das paredes domésticas. Percorreram estradas empurrando pedras pelos caminhos tortuosos da vida, na tentativa de torná-los retos, comprometidas com a esperança.

Conseguiram a capacidade de viver e conviver com as diferenças.

Um buquê de flores para as destemidas, feitas de lua, hoje indo à luta com a cara e a coragem. É tempo de violetas para as injustiçadas, prostituídas vítimas da violência onde, vestidas ou nuas, emprestam o corpo para a venda de sexo, carros, perfumes e joias. Sofrem assédio sexual e são mortas por qualquer motivo.

Exaltemos as provedoras do sustento da casa, sozinhas, capazes de darem conta da família; as lutadoras urbanas, essas valentes, agulhas perdidas no palheiro de Deus, que enfrentam no dia-a-dia a concorrência no trabalho, o inferno do trânsito e a educação dos filhos. As valorosas sertanejas exaustas de andar com bolhas nos pés e na alma, abandonadas pelos maridos, migrantes em busca de trabalho.

Palmas para todas elas pela grandeza de carregarem dentro de si a origem da vida. São atrizes principais do show. No fim do espetáculo, tornam-se coadjuvantes. Abandonam a ribalta para ordenar o catálogo do tempo, recapitulando a travessia. Enfrentam as dificuldades e tristezas o quanto podem.

Parabéns, enfim, para as sem destaque nas estatísticas do IBGE: as donas de casa, maternas e educadoras, impregnadas do cheiro de casa-de-mãe. Que tem a ver com parto, sangue, e lavanda Johnson. De mamadeira e respiração quente no aconchego imprensado de cama de casal. Essa simbiose de cheiros a perseguir o filho por onde ele for.

Comemoremos a ocasião deste dia. Milhões de rosas nos sejam oferecidas e felizes possamos sair por aí, sonhando, a pastorar estrelas, indo pelo espaço sem descuidarmos do privilégio de sermos eternas passageiras entre as galáxias.

Parabéns para nós.

Cici Araújo
Enviado por Cici Araújo em 07/03/2015
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