NATAL NO COLO DE UM ANJO

Faltavam dois dias para o natal, se não me falha a memória, do ano de 2003. Eu estava preparando uma confraternização com um grupo de teatro fundado por mim. Esse grupo de teatro era formado por jovens carentes que viviam em situação de risco eminente, mergulhados quase na miséria extrema. Alguns, antes de entrarem para o grupo de teatro, nutriam desejo de suicídio, e fuga pelo uso de drogas. Quando soube pelo que passavam esses jovens, resolvi criar esse grupo de teatro para resgatá-los a partir da arte, o que funcionou.

Em fim, estávamos reunidos preparando as comidas, outros ornamentavam a sala, etc. Eu estava na cozinha e assava uns salgados numa panela grande cheia de óleo quente. Havia uma menina de uns dez anos do meu lado e eu já havia pedido que el não ficasse ali, pois não era lugar para criança. De repente senti uma presença espiritual horrível e pressenti que algo muito ruim estava prestes a acontecer. Pedi insistentemente que a menina fosse pra sala e saísse de perto de mim. Ela não queria. Tive até que falar mais firmemente com ela para que ela saísse de lá com urgência. E foi só ela sair que ocorreu uma explosão na panela e o óleo fervente lançou-se sobre meu rosto e penetrou meus olhos.

Eu gritava que tinha ficado cega, amigo e todo o meu rosto ardia como uma chama viva. Andei apalpando a pia. Peguei o sabão e água e lavei bem todo meu rosto. Mas não enxergava mais nada.

Levaram-me ao hospital público, pois nesse tempo não tínhamos plano de saúde.

Lá colocaram apenas algodão com soro em meu rosto e prescreveram um remédio pra dor e me liberaram.

Em casa, pela madrugada, meus olhos colaram-se, pois a queimadura de terceiro grau era uma ferida viva.Parecia mesmo que havia vidro triturado dentro de meus olhos. Eu chorava de dor, mas minhas lágrimas não saiam. Pedi a Deus que me revelasse o nome de uma clinica que pudesse me atender bem. Em minha mente veio o nome "Clinica de olhos", para onde meu marido (hoje, meu ex-marido) me levou. Lá o médico teve que anestesiar meus olhos para abri-los. Depois os lavou por algum tempo e por varias vezes com uma substancia. Disse-me que eu não ficaria cega. Eu voltaria a enxergar com o tempo. Encheio meus olhos de remédios e os tampou. Eu parecia um ET. Mas o médico também me disse que meu rosto estava muito queimado e que eu precisava procurar uma dermatologista para que ela encontrasse um jeito de reconstituir a pele de meu rosto. E me advertiu de que eu não poderia chorar nem mover o globo ocular, pois a pele que envolvia o globo ocular havia sido queimada, bem como as partes internas das pálpebras e precisavam se regenerar.

Sai de lá mais aliviada, sabendo que pelo menos eu iria voltar a enxergar, mas ainda estava angustiada. Tinha vontade de chorar, tinha medo de mover meus olhos sem querer e prejudicar o estado deles.

Cheguei em casa, fui direto para meu quarto e me joguei em minha cama em total tristeza. Mas ainda tive forças pra conversar com Deus. E disse-lhe: " Meu Pai, só vós podes me salvar agora. Vou deitar em minha cama acreditando que são tuas mãos. Como evitarei o choro, se estou desesperada? Como vou conseguir não mover meus olhos? Só vós podes me salvar, me curar."

Inclinei-me para tentar dormir e para meu espanto, ao debruçar minha cabeça senti que a colocava no colo de um ser espiritual. Senti uma presença de extrema paz e alegria. Adormeci. Quando acordei, eu não encontrava em mim nenhum vestígio de tristeza. Eu sabia do meu estado mais sorria, cantava. Ninguém conseguia entender.

Nos dias que se seguiram fui cuidada por meu esposo, na época. E todas as noites ou cada vez que me dirigia a minha cama, quando inclinava a cabeça, era no colo de uma anjo que a depositava.

Amigos iam me visitar e na saída, longe de minha presença, choravam diante de meu estado. E todos segredavam entre si que eu não merecia aquilo.

Os dias continuaram a passar e chegou a véspera de Ano Novo. Havia passado uma semana do que me ocorrera. Uma vizinha que me acompanhara ao hospital no dia do acidente, foi me visitar. Ao me ver ficou perplexa. Eu estava totalmente recuperada. Meu rosto estava ainda mais jovem. E não haviam nenhum vestígio do que me acontecera. Ela não conseguia acreditar. Contou-me que o pai dela no passado havia queimado o braço também na cozinha e que havia passado um mês no hospital e ainda ficou com uma cicatriz no lugar da queimadura. Ela me perguntava como minhas queimaduras de terceiro grau haviam cicatrizado tão rápido e sem deixar vestígios. Então, contei a ela que havia sido Deus que enviara um anjo para cuidar de mim e que passara todo esse tempo à cabeceira de minha cama. Não sei se ela acreditou, mas ficou feliz, me desejou um feliz ano novo e se retirou.

E foi isso que me aconteceu. Meu coração se enche de alegria quando lembro da bondade de Deus. Ele existe. E tudo que eu faço hoje para as pessoas é trata-las da mesma forma que Deus me tratou.

Deus está disponível a todos, mas a diferença está na nossa fé, na nossa relação diária com Ele.

Sei também que muita coisa que acontece nesse mundo, nos faz perguntar onde está Deus, ou por que Ele não se manifesta em certas situações. Eu digo, nada é por acaso. Há muito mais coisas entre o céu e a terra; entre o presente, o passado e o futuro, muito mais que qualquer um consegue perceber ou imaginar.