Apelidos
                de alguns presidentes



               1. Nos cafundós do Ceará, eu criança, ouvi falar, pela primeira vez, num tal de Gegê. Só faltavam de dizer que ele era um santo e que fazia muitos e surpreendentes "milagres". Meus pais - meu pai, Raul Rolim, mais do que minha santa mãe, Maria Luiza - botavam o Gegê nos cornos da lua.
               2. Um dia, em um desses bate-papos domingueiros, naquele tempo muito frequentes no seio das famílias, soube dos velhos quem era o tal Gegê.
               3. Num tom se aproximando do solene, eles me disseram: "Gegê, filho, é o doutor Getúlio Vargas". E completaram: "É assim que povo e os jornais chamam, carinhosamente, o nosso presidente." Naquele instante, Getúlio, o Gegê, era o dono do Brasil.
               4. E, em seguida, mostraram-me uma foto, em preto e branco, do doutor presidente sorvendo, pomposamente, por um canudo que me pareceu de prata, um líquido que só depois vim saber tratar-se do chimarrão,  "uma bebida típica de sua terra natal", o Rio Grande do Sul. Gegê era de São Borja. 
               5. A foto, um postal, me dizia que Getúlio era baixinho, barrigudinho e muito alegre. Sorrindo, ele mantinha preso entre seus pequeninos dedos um charuto do tamanho de um bonde. E meu pai apontando para a foto: "Ele é o pai dos pobres." Vê-se, que o velho era, de fato, um getulista apaixonado. 
               6. Houve um tempo em que se brincava com os presidentes da República brindando-os com apelidos jocosos que quase sempre se aproximavam dos seus perfis. Sem, contudo, desrespeitá-los ou expô-los ao deboche.
               Alguns desses apelidos estão no gostoso livro da escritora cearense Isabel Lustosa intitulado Histórias de Presidentes - A República no Catete - 1897 a 1960, que li esta semana.
               7. Para divertir os que me dão a satisfação de ler as asneiras que escrevo, lembro, a seguir, os apodos de alguns presidentes, louvando-me no livro da minha ilustre conterrânea.
     Faço-o resumidamente, distanciando-me, por conveniência, de detalhes maiores oferecidos por Isabel Lustosa, no seu agradabilíssimo livro, de 292 páginas.
               8. Prudente de Morais (1894-1898), o Biriba. Segundo Raimundo Magalhães Junior, Prudente, como sua barba longa, lembrava um macaco do zoológico que tinha esse nome.
               Campos Sales (1898-1902), o Patriarca do Banharão. Banharão, regiam paulista onde ficavam suas fazendas. Curiosidade: podia ter tido outro apelido, a partir do momento em que foi flagrado, em pleno Catete, carregado nos braços (!) a linda esposa de um proprietário de jornais.
               Epitácio Pessoa (1919-1922), o Tio Pita. Curiosidade: no seu governo, duas pastas militares foram preenchidas por ministros civis. Na Guerra, Pandiá Calógeras; na Marinha, Raul Soares.
               Artur Bernardes (1922-1926), o Seu Mé. Nasceu numa marchinha carnavalesca. 
               Washington Luís (1926-1930), O Dr. Barbado, apelido que lhe foi dado pela oposição. Foi também chamado de o Rei da fuzarca porque era um político festeiro. 
               Eurico Dutra (1945-1951), Voxê qué Xabe. Era evidente o defeito em sua fala. Trocava o C e o S pelo X. Costumava dizer: "As palavras não foram feitas para serem gastas."
               Getúlio, duas vezes presidente, com o mesmo apelido: Gegê.
               Finalmente Juscelino Kubitschek (1956-1961), o JK, o Nonô, e o Presidente bossa-nova.
               16. Em outra oportunidade, falarei sobre os apelidos de Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Afonso Pena, Floriano Peixoto e Deodoro da Fonseca, presidentes que moraram no palácio do Catete. Há muito o que comentar sobre eles.
          17. Em tempo. Não vou dizer aqui, ou melhor, não vou repetir os apodos que são dados pelo povo brasileiro aos últimos ocupantes do Palácio do Planalto. Alguns, impublicáveis. Fiquemos, por enquanto, com os que moraram no Palácio das Águias, tão bem lembrados pela bela escritora alencarina Isabel Lustosa.

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/03/2015
Reeditado em 17/12/2019
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