SENSIBILIDADE (II)

O meu consolo é saber que o poeta vive grandes amores, ainda que alguns deles não sejam reais. Mesmo assim ele os vive em lindos sonhos e fantasias que só sua mente tem a capacidade de criar. Entretanto, se ele vivesse mais a realidade, procuraria amar apenas o que compõe... Deixaria para os demais o que esses denominam de paixão, amor, etc.

Infelizmente, cheguei à conclusão que uma grande maioria dos poetas não nasceram para ser amados. Eles vieram ao mundo apenas para imaginar e construir histórias de amor, compor lindos poemas que encantam a muitos, e até conseguem que os leitores se coloquem no lugar do personagem criado por eles, sonhem e se transportem para o encantamento gerado pela imaginação fértil do poeta, transformando em algo quase que palpável, e deste jeito conseguem viver o encantamento que foi imaginado e construído para que as pessoas sejam mais felizes. Creio ser esta a missão do poeta, contribuir com seus escritos para a felicidade da humanidade.

Sim, o poeta vive grandes amores, entretanto, seria bom se conseguisse viver estes sentimentos apenas em seus belos sonhos, deste modo seria evitado grandes sofrimentos para ele próprio.

Ao poeta jamais lhe será negada a paz, mesmo que esta venha acompanhada de muita solidão. Mas, para que sua paz lhe traga um sentimento de bem estar, é preciso que ele entenda que este é o seu destino.

Poeta é um ser iluminado, entretanto, só percebem esta luz, imanada de sua alma, as pessoas sensíveis e de bons sentimentos.

Uma das grandes frustrações do poeta é saber que os anos passam e ele jamais consegue esquecer a criança, a mulher sofrida, e o idoso, de quem não conseguiu enxugar as lágrimas que um dia viu rolar, naqueles semblantes tristes e amargurados.

A dor do poeta só diminui um pouco quando consegue transformar em poema os seus sofrimentos, que foram causados por

circunstâncias diversas ou, até mesmo, quando imagina a beleza da felicidade que não conseguiu alcançar.

Quem consegue viver um poema escrito em momentos de felicidade ou de dor, percebe que sempre existe encantamento na poesia, mesmo que seja extraído da alegria ou não.

Eu costumo denominar isso de sensibilidade.

25/3/2015