A MELHOR PARTE

14 de setembro de 2003 - 03h35min horas

E disse-lhes: São estas palavras que vos disse estando

ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que

de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas,

e nos Salmos.

Lucas 24:44

Por sugestão de um amigo muito especial, já faz algum tempo que procuro escrever apenas as emoções e experiências boas que acontecem na vida do servo de Deus. Entretanto, para que fique registrado, e até mesmo para aumentar a fé daqueles que pensam que um cristão só vive bons momentos, penso que devo escrever também sobre as dores (...) Os sofrimentos... E, por que não dizer, das muitas vezes em que, sendo provado, o crente fiel recebe ajuda de Cristo e, de imediato, coloca-se novamente de pé para seguir com sua cruz?

Tenho um amigo que me disse estar passando por grande prova. Continuando seu relato, afirmou que a dor em seu peito se faz muito forte. Confidenciou-me que, noite passada, acordou várias vezes: a primeira foi à uma hora da madrugada, quando olhou para o lado e notou que estava sozinho (...) Levantou, colocou-se de joelhos e orou. Pediu forças para poder resistir. Sua luta tem sido muito grande. Às vezes, até sente-se acuado. Costuma dizer que somente o amor de Cristo o consola, só a fé que encontra em Deus o faz resistir a todo mal que lhe procuram fazer. Após pedir forças ao Criador, ele adormece.

Às três horas e vinte minutos, desperta novamente. Por uns minutos, mesmo ainda deitado, fica meditando. Questiona: Por que tanta maldade reina na Terra? Por que as pessoas não se preocupam com o bem-estar do próximo? Por que não imaginam quanta tristeza, quanta amargura, quanta dor podem causar com seus atos impensados?

Naquele momento, já não consegue deter as lágrimas que descem em sua face. Em seu íntimo, ele pensa: Como a vida seria bem mais agradável se as pessoas, antes de tomarem qualquer atitude, primeiramente pensassem nas conseqüências daquele ato? Quanto sofrimento seria evitado. Quanta tristeza deixaria de ser estampada nos semblantes de muitos. Quanta dor deixaríamos de causar a nosso semelhante. Por quanta infelicidade deixaríamos de ser responsável.

Ainda divagando, segue seu raciocínio: Infelizmente, até que cheguemos a esse estágio da vida, o caminho que temos de percorrer é muito longo... É um caminho de luta com nosso próprio eu. É caminho de sofrimento solitário. É um caminho cheio de espinhos. É caminho de renúncia. É um caminho de lágrimas. Um caminho em que temos de enfrentar ingratidões. Enfim, um caminho de amadurecimento espiritual.

Se não nos vigiarmos, os pensamentos terríveis que o inimigo das nossas almas nos impõe pode até levar-nos a conseqüências drásticas (...) Neste momento, interiormente, ele faz um desabafo: Confessa que ainda está muito fraco na fé, instintivamente diz que seria hipocrisia da parte dele se não confessasse que, até hoje, vêm em sua mente pensamentos terríveis. Afirma que nota, perfeitamente, que é o inimigo querendo lhe por à prova, apontando-lhe "atalhos" para que ele saia daqueles sofrimentos. Entretanto, os seus conhecimentos bíblicos logo sinalizam o perigo daqueles pensamentos.

Reconhecendo que estava sendo tentado, procura juntar um pouco da força que ainda lhe resta e ora a Deus para que sejam repreendidos todos aqueles "conselhos" terríveis que só fariam com que ele perdesse a salvação.

Resiste orando. Cristo aproxima-se, enxuga-lhes as lágrimas, conforta-o, aumenta sua fé e, novamente, ele se vê fortalecido.

Às vezes, até pensa que sua "partida" está próxima. Por este motivo mantém a calma. Justamente por pensar assim procura buscar mais a presença de Jesus em sua vida. Sabe muito bem que somente Cristo poderá lhe sustentar de pé, pois só Ele lhe conforta nas horas de sofrimento. Somente estando em sua presença conseguirá resistir a toda dor que lhe desejam impor.

Sinceramente, ele se propõe estar preparado para que, quando "seu tempo" acabar, ele esteja pronto para prestar contas a Deus de todas as atitudes que tomou.

Diz-se consciente de que cometeu muitos erros. Porém, sua fé lhe faz crer que já foi perdoado. Agora, seu único desejo é não ficar novamente praticando atos condenados por nosso Criador para que, no momento em que estiver de se apresentar na presença do Mestre, esteja livre de atos que o impeçam de aproximar-se da grandiosa luz que Cristo representa.

Silenciosamente confessa que seus conceitos mudaram muito. O que lhe causava satisfação anteriormente causa-lhe, hoje, repulsa. Hoje, ele prefere a "melhor parte", orar... Meditar na palavra de Deus e pedir ao Pai que lhe dê forças para que a pratique, mesmo que, algumas vezes, esta sua opção ainda lhe traga muito sofrimento enquanto ele ainda estiver neste mundo.

Ele tem convicção de que, agora, o que lhe resta é seguir os ensinamentos sábios contidos nos evangelhos: unicamente o que deve fazer é orar por todos os seus inimigos, pedir a Deus que os perdoe, pedir a Deus que faça como fez que ele: mesmo sendo um pecador confesso, Jesus lhe deu a mão e colocou em seu coração a vontade de jamais fazer ninguém sofrer. O desejo de ver todos felizes lhe deu o sublime e verdadeiro sentimento de felicidade em ver o sorriso estampado no semblante do próximo.

Neste momento, finalizando sua reflexão, ele afirma que, daquele momento em diante, e por todos os motivos mencionados, apenas o que deve fazer é orar por todos... Principalmente por aqueles que o fazem sofrer tanto...