OLIGOFRENIA E BIPOLARIDADE

Tenho 57 anos mas me surpreendo constando que minha cabeça não guarda um bom sincronismo com o crono. Eles não são bons companheiros. Acho que sou meio oligofrenico, ou retardado como queiram chamar. Olho para o mundo, para as coisas ao meu redor, porém, muitas vezes não é um olhar de um sujeito maduro, um cinquenteissetão passado na casca do alho, 43 anos de trabalho, pai de cinco filhos e avô. Não. Na maioria das vezes faço um olhar de quem tem não sei quantos anos bem abaixo dos 30 e, para piorar, beirando a irresponsabilidade. Sinto uma vontade incontrolável de zoar, de trolar, de caçoar, de mangar, de rir. Sempre encontro algo engraçado, às vezes mórbida, terrível e inconsequentemente hilária. Mas só externo as que passam no crivo do outro lado da minha bipolaridade, onde mora o tal de cinquenteissetão, um censurador. Mas mesmo assim, não deixo de rir pra dentro. Aprendi a rir pra dentro e pra fora, a mostrar os dentes para esse cérebro maluco e pros malucos que não vêem esse cérebro.

E por falar em bipolaridade, confesso também que não consigo manter a irreverente personalidade quando me deparo com a dor do outro, com a morte, a tragédia e o sofrimento. Vem uma vontade de chorar e choro às vezes pra fora, às vezes pra dentro. Aprendi a chorar pra dentro. As lágrimas caem de volta para a fonte. Inverti a gravidade lacrimal. Não sei se por vergonha – por que as pessoas têm vergonha de chorar em público? – ou se para não contaminar ninguém com meu choro. Então me defino como um oligofrenico-bipolar, um chorão-alegre, um maduro-infantil que vive na banda cronológica entre os 11 aos 57 anos de idade.

Mas, na verdade, não estou nada preocupado com isso. Sou assim mesmo e vou ser assim para o resto da vida. E daí?Quando eu completar 100 anos essa declaração ainda estará atual. Sou contra a pena de morte, jamais matarei o bebê que fui/sou, a criança que fui/sou, o adolescente que fui/sou, o jovem que fui/sou e o velho que sou/serei. Quem todos vivam e me façam loucamente feliz.