Obrigado Minha Mãe.

Para falar da minha mãe, preciso enveredar algumas linhas sobre meu pai, que também o amei e sinto saudades. Grande parte da minha vida questionei muito a maneira que meu pai me educou. Foi na base do cabresto dobrado no lombo e por toda parte do corpo, inclusive na cabeça. Com o tempo visualizei a época chamada carrancismo. Observavam uma citação bíblica “não poupai a vara.” Alcancei ainda nos anos 40 a palmatória nas escolas. Meu pai era um ator dos costumes da época. O que questionava de meu pai,era as surras sem necessidades, não tinha diálogo com os filhos, principalmente comigo, o primogênito . No fim da vida, deixava entender entrelinhas que fora exagerado nos castigos corporais aos filhos, chegava a transparecer algum arrependimento. Meu irmão Altair que apanhou bem menos que eu, brincava com ele:- “ é pai o senhor gostava de uma correia no lombo da gente!’ Ele ria. Meu pai era uma fera na defesa dos filhos, tinha fama de valentão. Uma vez um rapaz na construção de uma estrada, onde eu teria que passar para ir a escola, quis me fazer de besta, eu disse poucas e boas para ele, me bateu, quando soube de quem eu era filho, perdeu o emprego e desapareceu.

Fiz esse preâmbulo , aproveitando a aproximação do Dia das Mães para saudar a memória de minha mãe. Já faz alguns anos que ela não está no meio de nós. Como já deixei entender o gênio de meu pai, tenho registrado em minha memória uma passagem entre eu, meu pai e minha mãe:- Tinha eu sete anos em 1943, minha missão era levantar às 4, 00 hs da manhã, buscar na invernada os bois para puxar o engenho de madeira para o fabrico de rapadura.

Num mês de muito frio, às 400 hs da manhã meu pai me chamou para buscar os bois, com muito sono, dei um tempinho para levantar, ferrei no sono, meu pai lavou os vasilhames, ajeitou as canas na banqueta do engenho e eu ainda nos braços de Morfeu, o tal deus do sono. Eu dormia pelado para não molhar a roupa de xixi, era um tal de fazer xixi na cama... De repente , um puxão na coberta e o relho de tocar burro acertando-me nas costas, braços, pernas e cabeça, começou e parecia que não tinha plano de parar. Pela primeira vez vi minha mãe transformar numa leoa, partiu para cima de meu pai e: -“ para de bater no menino, ele é de carne e osso!” Ele levou um susto, quando me viu começando ter uma convulsão.Naquele dia não busquei os bois. Lembro minha mãe passando água com sal nas minhas costas, dizendo que meu pai queria que eu fosse muito trabalhador. Falei com ela que não era preguiçoso, eu estava com muito sono. Não guardei mágoa de meu pai, entendi a sua época.

Obrigado mãe, sei que ai no céu a senhora está me olhando.

Lair Estanislau Alves.