QUE SUSTO!             
“A doença mais difícil de curar é a de não se sentir amado”
(do autor)
 
- Viu, dona Lili, inté qui as coisa num ficô tão ruim assim, despôs que a gente tivemo aquela conversa sobre a nova lei das impregada, num foi?
- É, Edi, até que as coisas não ficaram tão ruins, mas ainda vem mais por aí. Tem mais exigências e essas, pra mim, são as que poderão fazer o cálice transbordar. Portanto, não fique assim assanhada, nem anime o tal do Altamiro a ficar pensando em restaurantes caros à minha custa.
- Nem pensar, D.Lili, o meu Miro já se pegou feio com o pobre do Arlindo, só pruquê viro ele lá perto de casa, coitado.
- Edi, conta outra pra mim, querida, cada vez que você fala nele seus olhos brilham com aquele fogo já conhecido e eu sempre lembro da fungadinha no cangote!
- Dona Lili, a sinhora é que é curpada disso tudo...
- Eu, sua ingrata, se é você mesma que conta tudo isso pra mim?
- Mas a senhora num tem nada que ficar lembrano toda hora! Aí me dá uns arrupio da gota!    E falano em arrupio, a senhora sabe, eu tô sentino umas cocêra  estranha lá naquelas coisa, sabe? Será o que, dona Lili?
- Ai, meu Deus, mulher, o que você me arrumou agora? Já falei pra você abrir o olho com o Arlindo. Já pensou se o Altamiro desconfia? Ele te mata duas vezes, Edi!
- Pé de pato, mangalô  treis vez, disconjuro, patroa!
- Bem, você sabe que o Carlos Eduardo, meu marido, é médico ginecologista e, portanto, ele vai tratar do seu caso. Falarei com ele à noite.
- Uai, a senhora acha mermo que eu vou ter corage de amostrá as coisa pra dr Caloduardo?
Se acha, errou tudinho, dona Lili, sabe quando ? Nunquinha!
- Mas, mulher, ele é médico e está cansado de ver essas coisa; para ele isso é ato corriqueiro.
- Ó aqui  pra senhora! (puxando a pálpebra com o indicador)  Homi é homi e pronto!
- Edileuza, minha filha, se você não mostrar para ele, vai mostrar para outro, porque uma coisa é certa; se você não procurar conselho médico, as coisas vão piorar e, se for contagioso vai passar para o Altamiro. E, aí, como é que você vai explicar? Já estou antevendo a notícia nos jornais; Caso de amor extraconjugal  acaba em morte violenta na comunidade do Morro do Portão,  nome que, aliás, o seu Miro disse que deveria ser  “do Pretão”, mas que o escrivão era um “analfa” pior que o Arlindo!
- Pode pará, que já tô se mijano toda! Pode fala com dr Caloduardo que eu vou! Mas nunca mais vou olhá nos olhos dele, nunca mais.  E tem outra;  quando eu falá com o Miro, já tô inté
ouvino ele dizê – “Médico é médico, mas na minha modesta opinião...”.
- Valha-me Deus – finalizou dona Lili.
EPÍLOGO
Feito o exame, durante o qual a Edileuza tentava, sistematicamente, baixar a camisola, num combate feroz com o dr Cadu , este diagnosticou um caso brando de candidíase, que foi tratado com medicina doméstica; banhos de Maravilha e Árvore-do-chá.
Para alívio de todos, com destaque para o Arlindo, que, quando soube, teve um ataque de tremedeira de dar dó e só parou depois da terceira “lambada” no boteco do Serafim e feita, também, a prova do xixi sem ardência.
Para os jornais especializados em publicar misérias humanas, foi um desastre; para mim, amigo de todos os personagens,  incapaz de julgá-los (nem querendo), foi um grande alívio, mesmo sabendo que muita gente por aí, confrontando a ocorrência, possa, sentenciosamente, afirmar: “Há controvérsias, mas na minha modesta opinião...”
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(dedicado a todos os que, em louvor ao deus grego, Príapo, têm a coragem de encarar o desafio)
Imagem - Internet
 

 
paulo rego
Enviado por paulo rego em 11/05/2015
Reeditado em 11/05/2015
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