As palavras

As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem, ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer 


Pois é, vá com carinho no que vai dizer, canta e nos alerta Vanessa da Matta, em As Palavras. Mas ao que parece, o carinho, a gentileza, a educação, estão migrando para outras terras ou outro planeta distante, por desuso neste, que se diz civilizado. Cada vez mais me deparo com pessoas estilo "piruá", como diz Rubem Alves ou como diria uma amiga, criaturas "bolas-murchas". São pessoas que só respondem a um bom dia de cara amarrada, dando a entender que esse cumprimento é um tremendo incômodo, quase uma provocação. Bom dia? Por quê? O que você tem a ver com o meu dia?__ devem pensar esses tipos. Fazem questão de criticar as falhas alheias, quando deveriam ressaltar qualidades. Elogiar, valorizar, admirar, são ações rudimentares. O assunto predileto é a vida do outro, talvez porque as suas sejam demasiadamente medíocres. São irônicas por natureza, destilam seus venenos gratuitamente para esvaziarem suas reservas e não se tornarem vítimas de si próprias.
 
Na internet, especificamente nos sites de relacionamentos (relacionamentos?) esse comportamento áspero e hostil se apresenta de forma bem mais intensa, pois fortalecidos pela ausência física,  pessoas com esse perfil, insultam, xingam, debocham, agridem verbalmente, cuspindo o pior de si para o mundo. Hoje fui vítima de um legítimo representante dessa categoria em ascensão. Ao comentar um post no facebook, o qual divulgava um programa de rádio, confundi o nome de uma radialista, esta era A e achei que fosse B. Foi o suficiente para ser chamada de burra e mal informada por um ser que não sabe nada sobre mim. Desconhece onde moro, o que faço, a pessoa que sou. Assim como afirmou o tal sujeito, que inteligência ficou para poucos, eu acrescento que educação também. E questiono aqui a permissividade da rede, que ora se mostra como terra de ninguém, permitindo que pessoas desse tipo se intrometam nas falas alheias, participando da conversa sem  convite, demonstrando um comportamento invasivo e deseducado.
 
Ninguém, que seja seguidor de regras sociais de boa convivência, adentra na casa dos outros sem ser convidado ou senta em uma mesa de bar, onde estão pessoas desconhecidas para dar palpite  no assunto em pauta. Por que na internet isso acontece frequentemente? Por que somos tão coisificados e desrespeitados? Por trás de cada perfil de uma rede de supostos relacionamentos existem pessoas, com família, amigos, trabalho, personalidade definida, não são mangás de um mundo fictício. O fato é que seja no mundo virtual ou real, é sempre bom medir as palavras, pois elas violentam, enlouquecem ou fazem dormir... É preciso reaprender a usá-las.
 
 
Rosimayre Oliveira
Enviado por Rosimayre Oliveira em 25/05/2015
Reeditado em 25/05/2015
Código do texto: T5253949
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