Dias de angústias.

DIA DE ANGÚSTIAS.

Sentei-me ao lado da mureta da agência bancária, rajadas de ventos frios e cortantes me alvejavam a todo instante, não havia ninguém me fazendo companhia, o silêncio era quase absoluto, algumas pessoas apenas que passavam na calçada próxima de mim, eram trabalhadores, homens e mulheres a passos preguiçosos, dirigindo-se para a portaria da fabrica, eu fiquei ali observando o movimento, enquanto na minha cabeça passavam mil pensamentos.

Na verdade meus muitos pensamentos se congestionaram, um aglomerado de ideias distorcidas, e uma vontade latente de sair correndo dali em direção a qualquer lugar que não fosse a portaria da fabrica, mas isso não seria possível, eu teria que terminar o meu dia de trabalho, mesmo contra a minha vontade, afinal, todos me consideram um bom profissional, não é agora que vou manchar minha imagem.

As vezes fico a refletir na minha imagem, questiono a minha imagem, a verdade é que as vezes detesto a minha imagem, não sou do tipo amargurado e autodestrutivo, é que tem dias e todos há de concordar, em que não acordamos bem, e hoje é um desses dias, hoje eu não acordei bem, talvez o meu pé esquerdo foi o primeiro a pisar no chão, também quem nunca teve um dia assim, ruim ao extremo.

Olho no relógio e levo um tremendo susto, como a hora passou sem que eu percebesse, tenho apenas cinco minutos para retornar para o trabalho, não sei bem explicar o motivo, mas confesso que me angustia muito minha nova função, ainda estou me adaptando a rotina das novas funções, imagino que esse tipo de sentimento seja normal, certo é que tudo o que é novo assusta, como o primeiro dia de aula ou o primeiro beijo da namorada, mas no meu caso tudo me assusta de forma potencializada.

Sinto que apenas fui trocado de jaula, mas os leões que me rodeiam são os mesmos, com a mesma ferocidade de sempre, com a mesma sede de sangue, meu precioso sangue, é a mesma coisa de antes só que em lugar diferente, trocaram os vestidos, mas a noiva é a mesma, olho no relógio novamente já passei da portaria da fabrica, quase não deu tempo, foi por um minuto apenas, continuei a caminhar, agora a passos lentos, e cada vez mais lentos sem presa de chegar, sempre lento.

Atravessei a primeira faixa de pedestres e a segunda sem ao menos olhar para os lados, dentro da fabrica eu me dava essa luxo, mesmo porque e lei o motorista parar para um pedestre. Meu setor estava a exatos dez minutos de onde eu me encontrava, mas na minha velocidade atual, dez minutos se transformaria em vinte ou mais. Eu não tinha presa, meu turno só terminaria as quatro da tarde, e ainda restavam três horas inteiras, onde eu teria que enfrentar os terríveis leões que me aguardavam, sem dizer no capataz e seu capitão do mato, nada de novo debaixo do céu, apenas mais um dia de trabalho e angústias.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 07/06/2015
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