Belém, belém, nunca mais fico de bem
 
 
Quem tem 50 aninhos ou mais, assim como eu, há de lembrar dessa brincadeira de criança. Quando brigávamos ou desentendíamos com algum(a) amiguinho(a) na infância, batíamos o dedinho de um lado e de outro da bochecha e dizíamos:
- “Tô de mal”.
Em seguida, repetíamos o mesmo gesto e dizíamos:
- “Belém, belém, nunca mais fico de bem”.
Isso era uma promessa. Estava selado o fim da amizade.
Lembro que eu ficava muito mal quando minhas irmãs ou alguma amiga me dizia isso batendo os dedinhos na bochecha.
E olha que foram muitas vezes, pois eu era uma pimentinha ardida que arrumava confusão com meio mundo.
Meu pai costumava dizer que me amarraria no pé da mesa para eu deixar de “criar confusão”.
Mas, o bom de ser criança, é que essa promessa “de nunca mais ficar de bem”, não durava até o pôr do sol. Antes que terminasse o dia já estávamos todos “de bem” novamente e ninguém se lembrava mais de qual tinha sido a desavença.
Não sei de ninguém que tenha realmente selado o final da amizade e ficado "de mal" por mais de um dia.
Eu ficava ansiosa para fazer as pazes. Não me sentia confortável ficando “de mal”, principalmente se tinha sido eu a causadora da peleja.

É sempre muito bom relembrar os tempos de criança, as brincadeiras de criança, as coisas de crianças. Mas, bom mesmo é ser criança. Elas vivem em um universo à parte onde tudo é possível. Ainda não aprenderam a maldade que nós, adultos, desenvolvemos.

Queira Deus, hoje, que o sol nunca se ponha sobre a nossa ira quando estivermos de “belém, belém” com alguém. 
Queira Deus, não deixemos nunca morrer a criança que mora dentro de cada um de nós.


 

[... em homenagem a um amigo que me disse essa semana, em brincadeira, “tô de mal”, e me fez voltar a ser criança.]
Suzana França
Enviado por Suzana França em 05/07/2015
Reeditado em 05/07/2015
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