DAMA DA FOICE

São três infartos, ou enfartes, ou enfarto, já nem sei o correto. Só sei que são três pontes de safenas, uma ponte mamária(?) e três stents. Não é só isso. Minhas vértebras estão irregulares, as cartilagens se foram, pela idade ou pela postura, sei lá. Meu cabelo branqueou de vez e está rareando. Meu peito tem uma baita cicatriz, por causa da revascularização. Aquele peito cabeludo de macho, agora tem uns poucos fios brancos. (Mentira, nunca tive o peito cabeludo, mas ainda sou macho!) As rugas na face, ih! Nem se fala! Quando vejo no facebook as fotos antigas de famosos antes e atuais, fico animado. Os galãs também envelhecem e ficam feios. Também fui galã, pelo menos pra uma pessoa. Mas ela não diz: Que horror! Ela diz: Meu “velhinho”! Ela não envelhece. As mulheres nunca envelhecem. Os homens têm que envelhecer, talvez seja um castigo de Deus. Entretanto, não é a aparência envelhecida que incomoda. O que causa “sofrimento” são a restrição das habilidades e as ressalvas aos pequenos e grandes prazeres. Ah, como era prazeroso fazer pequenos consertos ou reforma na moradia. Ah, como é bom caminhar na beira do mar, descalço. Como é bom pegar um marisco, iscar, e pescar um papa-terra. Um "uisquezinho" de vez em quando ou uma cervejinha, que maravilha! E o cigarrinho, companheiro de quase meio século, agora proibido. E o churrasquinho e a roda de Samba? Passar um “xaveco” numa ninfeta, mesmo sabendo que não vai dar em nada. Tudo isto fica no passado? Não, não é possível! É injusto demais! Meus pecados foram tão pequenos, que esta penitência é desproporcional. Até a medicação que estou tomando tripudia o meu passado. A Sertralina me lembra do Catalina, famoso avião da FAB, da qual fiz parte mesmo que por pouco tempo. A Rosuvastatina parece um nome russo que lembra quando eu era metido a comunista e estudava a língua russa. O Rivotril me lembra do “Penetril” que eu usava como desengripante para porcas e parafusos numa estatal em que trabalhei. Já estou ficando lelé da cuca de tanto tomar remédio. Talvez os quilômetros de cigarros fumados, os tonéis de uísque e cerveja tomados ao longo da jornada tenham tido alguma consequência, não acredito. É provável que eu tenha sorvido um alambique inteiro. Foi tão bom! Como bom gaúcho, devo ter dizimado uma boiada. E, se toda a vez que eu furunfasse, gerasse um filho, provavelmente criaria uma cidade chamada Sergiolândia. (Mentirinha, não foi tanto assim.) O certo é que a “Dama da Foice” já me mandou um e-mail do além: “Orienta-te guri, vou te dar mais uma chance, aliás, já perdi a conta de quantas chances eu te dei!” Pois é senhora Dama da Foice, pau que nasce torto morre torto. Não adianta ficar acenando esta foice pra mim lá na CTI do Instituto de Cardiologia. Se for pra fazer o serviço, faça logo e não fica me estressando. Estresse é o que me enfarta, será que a senhora ainda não entendeu? Pois então, eu tenho um recado pra senhora: Não me manda pro Céu, pelo amor de Deus. Não tem uísque e nem cigarro. Talvez nem roda de samba!

Tenha piedade da minha alma!