CTI

Foram poucos dias na CTI do Instituto de Cardiologia aqui em Porto Alegre. Para que fique bem claro foi apenas uma “oclusão da ponte para ACX-Mm, e lesão subjacente em ACx com lesão grave. ACTP com stent eluído sem intercorrências”. Fica óbvio que todos entenderam o meu piripaque, acho que até uma criancinha de cinco anos entenderia. Mas não é pra falar deste meu queixume. É pra falar que a técnica de enfermagem meu deu banho! Meu Deus, que pobre mortal me tornei. Do alto da minha soberba, ela virou-me e lavou minhas “partes”, inclusive a “parte” pequena! Lembrei-me que há 20 anos, enquanto eu era atendido por uma delas, veio sua colega e lhe falou alto: “Chegou um guri bem novinho, vou lá correndo pra dar banho nele!” Naquela época senti-me ofendido. Também estava na CTI do mesmo hospital, sentindo-me um velho sem grande importância(e eu achava que naquela época eu era um garanhão). Hoje, já ancião, tremi na base quando ela disse que iria me dar banho. Foi lamentável: Apanhou uma bacia, encharcou um pano ensaboado e tacou no meu peito, esfregando-me com se limpa uma mesa, pia ou qualquer coisa. Minha dignidade começou a ruir quando ela disse pra eu pegar o pano molhado e limpar os meus acessórios masculinos. Eu disse não, naquela altura abri a guarda e deixei-a fazer o serviço. Minha dignidade desmaterializou-se. A última pessoa(que não eu) que fez isto comigo foi minha mãe há mais de seis décadas. Pra completar a triste contenda, mandou-me virar e limpou-me o traseiro. Já não era mais eu. Eu era uma coisa de carne, e por mais que filosofasse, não passava de uma “coisa de carne”, com pés, braços, tronco e bunda. Estava limpo, olhei pro ”documento” higienizado e para não deixa-lo acabrunhado falei em voz baixa pra ele: Não te preocupa gurizinho, ela não sabe que tu geraste três filhas e deste muitas felicidades pra tua parceira nas últimas quatro décadas; quando ela (a enfermeira) nasceu há muito tu já estava na lida. Depois do banho, trocou a roupa de cama e me disse: Pronto, agora tá limpinho! Graças a Deus, foi a primeira palavra positiva que recebi na semana. Até então o Cardiologista falou mais de uma vez que eu iria morrer se continuasse a fumar. Quando ela falou a palavra “limpinho” quase me apaixonei. Mas não durou muito, pois na cama da CTI do lado da minha, entrou um gurizão de porte atlético e deveria estar “muito” sujo, pois as enfermeiras estavam sorteando quem seria a felizarda para dar-lhe um banho. Eu odeio CTI!