Mensagens que edificam - 76

Num mundo onde o racional é imperativo, como conviver com o duvidoso, incerto e sobrenatural? A história da humanidade é feita de relatos reais, todos comprovados pelas ciências históricas, arqueológicas e sociais, como também de mitos, lendas e crendices. A estrutura cultural de muitos povos antigos remonta situações em que a falta de conhecimento deu lugar a mitologias com a finalidade de alimentar uma necessidade ambígua entre governantes e governados. Os grandes lideres na sua grande maioria eram muito mais do que apenas comandantes, eram vistos como divindades encarnadas. Os povos orientais que o digam, com seus imperadores endeusados e venerados como fossem extraterrenos. Da plebe, percebe-se uma necessidade coletiva em suprir suas deficiências econômicas e sociais com crendices em entidades sobrenaturais que um dia, nesta vida, ou no além, iriam gozar de delícias que lhes foram privadas neste plano. Na verdade a religião sempre funcionou como um anestésico funcional que desde sempre vem acalmando os ânimos dos povos ante desigualdades sociais. Enquanto isso, a burguesia e, ou, os líderes de maneira avessa sempre se utilizaram dos mitos e lendas, mormente a religiosidade, para usufruirem de uma vida regalada às custas dos crentes, devotos, fiéis, seguidores, adeptos ou qualquer outro adjetivo que configure uma postura de subjugamento, temor, obediência, lealdade, ou de igual modo algo que traduza uma passividade e domínio permissivo sem resistências mais agravantes por parte dos seus súditos. Ao observar o caminhar da humanidade, é notável que quanto mais é escasso o conhecimento, a cultura, a educação e a informação, também é sobrepujante o comportamento servil no tocante a fé. Em contrapartida onde os níveis educacionais são mais elevados, ou onde não existe analfabetismo, a penetração dos princípios religiosos é de extrema dificuldade. Não é a toa que nos períodos mais remotos das civilizações a falta de acesso ao conhecimento literário chegava a mais de 97 por cento da população. Uma ínfima classe de homens faziam e desfaziam leis e documentos como bem entendiam. Era o terreno perfeito para a disseminação de mitos, lendas e crendices. Na Bíblia, esta categoria de homens é descrita como os escribas, os detentores da pena que registravam a história e narravam a trajetória de um povo, na maior parte das vezes, segundo as crendices que permeiam esta informação, sob a égide de um deus, ressaltando que as mãos sempre foram meramente humanas. Muitos séculos depois, com os eventos da imprensa, das comunicações radiodifusivas e televisivas, com a chegada dos satélites e da internet conectando o planeta em tempo real, consegue-se detectar que um analfabetismo funcional continua a abater os povos. A cada dia novas descobertas elucidam mistérios, mas ainda há quem prefira viver e conviver com estes tais mistérios. Num mundo onde o racional é imperativo, como conviver com o duvidoso, incerto e sobrenatural? Se para alguns quebrar tabus desprende um esforço titânico, para os amantes do saber rasgar véus e espalhar névoas é um prazer indescritível.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 09/07/2015
Reeditado em 09/07/2015
Código do texto: T5305192
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.