LEMBRANÇAS DE BARBACENA

LEMBRANÇAS DA EPCAR nos anos 1970, 71, 72 na cidade de Barbacena-MG

Foi um tempo bom.

Faz 45 anos e ainda lembro alguma coisa.

Tinha um capitão Sena e o Sabugo. Em compensação tinha o Chumbinho, este, gente boa.

A Isabelinha, que pena.

Do V.I. pra visitar as camofas.

E depois da operação da fimose, a reestreia no “Sessenta”. Só sei que foi um vexame.

Lembro-me da “ Vovó” e do “Rancho Alegre”, mesmo inebriado, sabia bem o caminho.

Lembro que logo após a bolinação com a menina de família tradicional da cidade, eu tinha que “desopilar” lá na “Casa da Dora”.

Lembro-me de ouvir a rádio Mundial nas noites enluaradas no meu primeiro rádio gravador Phillips comprado lá mesmo em Barbacena, junto com um blusão de voo azul de um primeiro sargento da Escola. Até a minha primeira calça Lee foi adquirida com ele.

Do Ginos e do Barbacenense, quantas histórias. Os hormônios a mil e as gurias sempre a fim.

Lembro-me da professora (que professora!) do áudio visual de francês, até hoje ressonando na minha cabeça: Je suis monsieur Thibaut, Je suis monsieur Thibaut,...

Da Geometria Descritiva, que sufoco!

Lembro-me da NAE, do Cross Country pela cidade.

Do desfile em São Paulo no sete de setembro, a esquadrilha na forma de um avião, foi perfeito e inesquecível, valeu a viagem de trem.

Das procissões católicas na rua principal.

Dos passeios a São João Del Rei, Santos Dumont e Tiradentes, com minha namorada barbacenense (camofa não, era minha namorada!) que pedia o Jipe emprestado do pai para a viagem. Ou das serenatas que fazíamos aos amigos da cidade. Haja cachaça!

Do bloco de Carnaval com alguns de nós alunos, com a música: “Foi num laguinho que o meu bloco surgiu! Tava bonito que puta que pariu. Foi feito com muito suor e trabalho. E no final deu um bode do car...”. O resto da letra eu sei, mas não vou escrever, pois deve ter criança na sala!

Lembro bem dos “phthirus púbis” agraciados como acidente de trabalho. Nada que um Neocid não resolvesse. Tinha que raspar e depois ficava pinicando. Alguns encontros se davam na linha do trem em frente à Escola, ao som dos carregamentos de minério. Haja hormônios!

Das tradicionais lavadeiras que cuidavam com carinho das nossas roupas, era sempre um evento quando elas vinham nos entregá-las, pois batíamos um bom papo com aquelas senhoras que tinham enorme apreço por nós.

Era a cidade das rosas e dos loucos. As historias de horror no hospício de Barbacena acontecia nas nossas barbas, mas éramos ingênuos e não sabíamos de nada. Graças a Deus!

Tenho saudades da família que me acolheu na cidade, pois sendo gaúcho e estar bem longe de casa, cheguei ficar um ano sem visitar meus pais. Mas nada como uma carta com o timbre dourado da Escola não resolvesse. Era uma folha azul claro com uma asa dourada no topo escrito: “Non munta sed muntum”. Tenho até hoje estas cartas que escrevia pra minha escolhida que veio ser minha esposa há quase quarenta anos.

Lembro-me da copa de 70 que assistimos no telão do auditório, poucos brasileiros tiveram aquele privilégio. E a maioria ainda não acredita que em 70 era um telão grande e a cores.

E o show dos Mutantes? Inesquecível: “Ando meio desligado, e nem sinto os meus pés no chão...” A Rita Lee bem novinha...

Lembro-me bem das peripécias pra matar a formatura no pátio da Bandeira e depois ser castigado pelos alunos mais antigos como a limpeza de seus dormitórios ou o engraxar das botas.

Lembro-me de fugir da PA no centro da cidade, por estar fora de Escola sem a devida permissão.

Lembro-me de estudar muito para alcançar a aprovação nas matérias.

Lembro-me do rasante feito por um T6 cortando um galho de eucaliptos(ou quase) no pátio da Escola.

Lembro-me do tiro acidental dado por um aluno mais novo quando estava fazendo a ronda. Era época de guerrilha. Fui saber depois.

E dos porres homéricos? Pula esta, esquece.

E o concurso de desfilar com a gata mais “formosa” da cidade, valendo uma garrafa de uísque? Não vou dizer o nome de quem ganhou, mas ele fez uma declaração de amor para a dita cuja: Você é a beterraba da minha salada, etc. Omitirei os nomes dos concorrentes para preservá-los. Não liguem, já faz muito tempo!

E o vício do cigarro? Adquiri dando “uns pega”: “Me dá a vinte”, ou a “segunda” e depois com maior orgulho, comprando um maço inteiro. Para os alunos mais novos, fazíamos o gesto com um “V” e dizíamos: - Preenche esta lacuna. Lá ia o aluno atrás de um cigarro para nós viciados. Eta vício maldito!

Fui um abençoado, pois vivi, juntamente com a vida escolar, um pouco da dinâmica da cidade e fiz alguns amigos. Estes me foram muito importantes.

No armário junto às fotos de mulher pelada, havia fotos de aviões, era o sonho que se reforçava. Meu companheiro de armário do alojamento do segundo ano era bem organizado e deixava seus pertences bem arrumadinhos. Aprendi com ele, pois eu era meio bagunçado. Hoje, me parece que ele mora no exterior e bem de vida. Tornei-me um aposentado da Petrobrás, e desconheço a operação “lava Jato”, pra que fique bem claro!

Neste cadinho de aventuras forjaram-se bons cidadãos, uns com estrelas no ombro pela habilidade de voar, outros com as estrelas no ombro pela capacidade de conduzir bem suas vidas e de suas famílias, sempre como exemplo de cidadania e respeito.

E depois de colegas de escola, tornaram-se irmãos, pois mesmo após quatro décadas o carinho é o mesmo. E pra todos, o Salmo 133 diz tudo: “OH! QUÃO BOM E SUAVE É QUE OS IRMÃOS VIVAM EM UNIÃO”.

Estamos na idade do descompromisso e, quando a finitude se aproxima a passos largos, preparamos o relho para dar no seu lombo e afugentá-la.

Tudo saiu exatamente como deveria ser.

Hoje o maior gozo é a emoção da boa saúde, da família, dos netos, da vida, (com um pouco de ereção) e ver que tudo isto valeu a pena.

Clos 70-120