Cara, me escuta! (falando comigo...)

Entendo que não queiras me escutar, mas é preciso que ouças. Estás triste... Trabalhas incansavelmente, mas não mostras mais o carinho de antes pelo que fazes... És agora, pura técnica, sem o gosto e a garra que antes tinhas pela tua profissão. Sinto tua falta de entusiasmo para com as surpresas do dia a dia, logo tu, observador atento do cotidiano que sempre fostes. Olhas agora para o chão, quando costumavas mirar o horizonte. Olhas o vazio e procuras pessoas que não querem o encontro. Nada encontras. Maltratas teu corpo, onde mora a tua alma. Machucas o teu coração, onde estão guardados os teus melhores sentimentos... Vais pelas ruas sem rumo, nada vendo, olhar vazio. Andas por andar, apenas... Te entregas ao isolamento e a solidão, te escondes do mundo. Tuas lágrimas me sensibilizam e me preocupo contigo. Vives na sombra e te negas a ver o sol. O universo te chama e não ouves. Te culpas por tudo e te castigas, levando nos ombros o que não é teu... Procuras o sono, mas os sonhos te trazem angústia. Não descansas mais.... Não repousas... Lutas contigo mesmo o tempo todo, batalhas sem sentido e nexo, e delas sais derrotado. Fantasias sobre o impossível e, longe de te tranquilizares, encontras somente o desespero do amor perdido. Não elaboras as tuas perdas e queres respostas que nunca mais virão. Me preocupa que andes namorando com a morte e que as vezes a entendas como solução para os teus tormentos. Perdestes os teus prazeres e não os tens buscado. Esperas inutilmente por palavras que nunca mais serão ditas, por mensagens que não chegam,por amores que se foram e não voltarão, por quem amas e que não te ama mais... Ela se foi e ficaram as saudades, doídas, persistentes.... Não sei o que farás a respeito e que caminhos buscas, mas me escuta! Me Ouve! Procura sentir, estás insensível para o viver... A vida pode ser injusta. Mas é a vida que tens... Ela te chama e não vais ao seu encontro. Não sabes onde ir, qual caminho buscar, o que fazer contigo.... Estás cansado, muito cansado... Machucado, maltratado e pleno de dores. As marcas da vida não se fecham, impostas que foram a ferro e fogo em teu ser. Não cicatrizam... Nada queres, nada sentes, nada almejas... Aquele que um dia fostes e que se manifestava presente no mundo, foi-se. Desapareceu o teu sorriso, a tua alegria... Este que vejo agora, não quer viver mais. Não posso te dizer o que fazer. Só posso te dizer o que sinto. Não te amas mais. Não consegues... Estás fugindo da vida e te deixando morrer. Me escuta, cara.... Me ouve....

LCRivera – 11 de julho de 2015