QUEM NÃO TEM DÚVIDAS NÃO SABE.

É assustador saber o quanto somos prepotentes a ponto de vivermos num mundo de certezas. Aliás, os homens mais sábios de que se tem notícia eram assombrados, dia e noite, por suas dúvidas. Eles passavam uma vida inteira tentando desfazê-las, todavia, por mais que tentassem se livrar delas, à medida que uma era resolvida, muitas outras surgiam para dar continuidade a sua inquietação. E morriam, segundo afirmou um deles, na mais obscura ignorância. Era exatamente essa busca constante e interminável que alimentava cada um de seus dias.

Hoje, o que se veem são criaturas inchadas de convicções, de ideias absolutas e pouquíssimas ou nenhuma dúvida. Olham, observam por um instante e já sabem. Não fazem nenhuma análise, nenhuma pergunta; apenas passam do não saber para o saber, de um momento para outro. Deduzem sem questionar e afirmam. Não há tempo para “Talvez” ou “Será que...? Tudo são certezas. Vive-se um tempo no qual é preciso estar sempre seguro do que se diz ou do que se faz. Assim, julga-se por o que se vê ou se imagina, sem sequer cogitar a possibilidade de erro ou de precipitação. Corrompendo a famosa frase de Descartes, vive-se sob a tese do “Eu sei, logo estou certo.”

Parece que estamos perdendo o gosto pela descoberta do outro, do mundo ao nosso redor. Pensamos e agimos como se fôssemos infalíveis, isentos de enganos. Talvez essa seja a nossa caminhada insana rumo à verdadeira ignorância, aquela que nem os sábios mais antigos experimentaram, já que, diferente de nós, da sua eles eram plenamente conscientes. Talvez devêssemos, urgentemente, retomar o espírito de humildade que lhes era peculiar. Caso contrário, poderemos estar marchando inapelavelmente na direção da mais profunda escuridão de alma.

Everton Falcão
Enviado por Everton Falcão em 12/07/2015
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