Deu Coelho?
Essa da Vanda é de bolar de rir. Vou começar do começo.
A Vanda era a brancosa lá de casa, carona de flor de jerimum, a preferida das tias por ser alva. Eu tinha muito abuso, pense!
Um dia o pai inventou de vir a Fortaleza e adivinhem quem ele trouxe? A Vanda!
Chorei de ódio os cinco dias que ela passou na Capital. Pra acabar de ajeitar uma vizinha, conversando com a mãe, disse "olha, a bichinha, chorando de saudade da irmãzinha!"
Oh, rapaz. Pra que. Aí foi que eu chorei, ódio quadriplicado a numeragens galácticas. O conceito de vingança ainda não existia na minha mente infantil então só me restava chorar.
Apois. O pai era viciado em jogo do bicho. Todo dia de manhã ele perguntava o que tínhamos sonhado.
Se o pai tivesse conhecido Jung, saberia que os sonhos não são bem o que se mostram. Mas não conhecia. Nem a Vanda.
Um dia a Branca de Neve lá de casa sonhou com um coelho felpudo,alvo como algodão e olhinhos vermelhos. Ou foi um típico sonho de criança ou era o Cão usando o sonho da menina pra mangar do pai.
Eu sonhei que era a Bruna Lombardi e o Tarcísio Meira me beijava ajoelhado aos meus pés. Foi na época da novela Roda de Fogo. Pra não apanhar, disse que não tinha sonhado nada.
Mas a Vanda contou do seu sonho com o coelho. O pai desceu pra rua muito satisfeito, o palpite era bom. Há dias não dava coelho na cabeça.
O jogo do bicho corria às quatorze e às vinte e duas horas e o pai jogava nos dois horários e nas duas casas de jogo, amarrando o bicho; se não desse em uma dava na outra.
Quando deu quinze horas eu senti o pai abrir o ferrolho da porta de baixo.
Desde pequena eu tenho esse negócio de captar as emoções alheias que os charlatães chamam de sensitividade.
Já sabia pelo barulho forte do trinco: o pai tava de feira quebrada. Desabei no rumo do quintal, brincar com os cachorros.
A Vanda, na cozinha, comia delicadamente uma banda de pão com café, certamente imitando alguma atriz de novela. Quando o pai passou com a tolha no ombro, liso e furioso no rumo do banheiro, a Vanda se levantou lá do canto dela, foi até onde o pai estava e perguntou na maior animação:
"Pai, deu coelho?"
Essa da Vanda é de bolar de rir. Vou começar do começo.
A Vanda era a brancosa lá de casa, carona de flor de jerimum, a preferida das tias por ser alva. Eu tinha muito abuso, pense!
Um dia o pai inventou de vir a Fortaleza e adivinhem quem ele trouxe? A Vanda!
Chorei de ódio os cinco dias que ela passou na Capital. Pra acabar de ajeitar uma vizinha, conversando com a mãe, disse "olha, a bichinha, chorando de saudade da irmãzinha!"
Oh, rapaz. Pra que. Aí foi que eu chorei, ódio quadriplicado a numeragens galácticas. O conceito de vingança ainda não existia na minha mente infantil então só me restava chorar.
Apois. O pai era viciado em jogo do bicho. Todo dia de manhã ele perguntava o que tínhamos sonhado.
Se o pai tivesse conhecido Jung, saberia que os sonhos não são bem o que se mostram. Mas não conhecia. Nem a Vanda.
Um dia a Branca de Neve lá de casa sonhou com um coelho felpudo,alvo como algodão e olhinhos vermelhos. Ou foi um típico sonho de criança ou era o Cão usando o sonho da menina pra mangar do pai.
Eu sonhei que era a Bruna Lombardi e o Tarcísio Meira me beijava ajoelhado aos meus pés. Foi na época da novela Roda de Fogo. Pra não apanhar, disse que não tinha sonhado nada.
Mas a Vanda contou do seu sonho com o coelho. O pai desceu pra rua muito satisfeito, o palpite era bom. Há dias não dava coelho na cabeça.
O jogo do bicho corria às quatorze e às vinte e duas horas e o pai jogava nos dois horários e nas duas casas de jogo, amarrando o bicho; se não desse em uma dava na outra.
Quando deu quinze horas eu senti o pai abrir o ferrolho da porta de baixo.
Desde pequena eu tenho esse negócio de captar as emoções alheias que os charlatães chamam de sensitividade.
Já sabia pelo barulho forte do trinco: o pai tava de feira quebrada. Desabei no rumo do quintal, brincar com os cachorros.
A Vanda, na cozinha, comia delicadamente uma banda de pão com café, certamente imitando alguma atriz de novela. Quando o pai passou com a tolha no ombro, liso e furioso no rumo do banheiro, a Vanda se levantou lá do canto dela, foi até onde o pai estava e perguntou na maior animação:
"Pai, deu coelho?"