Não quero ir para casa!

Não quero ir para casa... Nada tenho por lá a minha espera, nada espero encontrar... Nenhum amor me aguarda, nenhuma esperança lá habita. Nenhum sonho a ser sonhado...Permaneço no meu lugar de trabalho por muito tempo depois de terminar os meus afazeres, esperando que as ruas fiquem vazias, que a noite chegue... Saio... Nenhum lugar onde queira chegar, sem rumos ou caminhos a escolher. Não quero ir para casa. A solidão me aguarda. Implacável... O lugar está pleno deste sentimento que a tudo, tudo toca. Está ao lado das saudades, do desamor, da desesperança, das lembranças que não quero lembrar. Não posso debater com a solidão, combate-la... Apenas me permito sentir. Sou envolvido por este sentimento todos os dias. Não tenho mais forças para lidar com isto, maior e mais poderoso do que eu possa ser. Solidão, produto do que foi perdido e que não voltará... Do amor unilateral... Sem respostas. Que não mais me quer. Do chamar e nada escutar, do bem querer e do nunca mais ter. Do telefone que não toca, da mensagem que não vem, da espera inútil. Do vazio que restou, que aumenta a cada dia, a cada hora... Da dor que não passa, do sono que não vem, dos pensamentos que me fazem sofrer, do apetite que se foi, do sorriso que sumiu... Do carinho que tanto preciso e que não tenho. Secaram as minhas lágrimas... O pranto é da alma. Não importam as minhas dores e lágrimas para os outros. Não podem senti-las por mais intensas que sejam. Não podem compreendê-las. Não podem... Não as querem ver, são incômodas... São minhas... Só eu as sinto. Acato o que a solidão me propõe... Não tenho desejos de conversar, de falar, de dialogar. Não quero ver ninguém... Me entrego a solidão e a adoto. Sou por ela envolvido e a aceito. Que me traga o que quiser trazer. Não importa... Não tenho como lidar com isso e palavras nada me dizem ou ajudam... São apenas isso, palavras... Não sei o que fazer com este sofrimento, me faltam recursos para lutar. Pode ser que precise viver esta dolorosa experiência que a vida me traz até que se esgote, senti-la intensamente, me entregar... Depois... É só o depois... Viver, ou não. Não sei...