O velho riacho.

O VELHO RIACHO.

Às vezes os meus pensamentos parecem às correntezas do velho riacho que existia no fundo da casa onde eu morei na minha infância. As águas cristalinas daquele riacho exibiam correntezas velozes cheia de pequenos peixes que nadava de um lado para o outro, tudo no silêncio absoluto das águas mornas de um verão mineiro.

Eu era apenas uma sombra esquia, sentado de pernas cruzadas à beira do riacho; eu me considerava um viajante de outras eras e de outros mundos, procurando ansioso a musa daquele lugar, eu procurava por sua infinita beleza, pelo seu doce perfume, era ela o meu amor infantil de primavera.

A musa inspiradora da minha infância, anjo ledo de meus sonhos infanto-juvenil, como eu queria tê-la ao meu lado, eu que desejei ser o guia cego daquele coração, o brilho daqueles olhos movimentavam as engrenagens de meu jovem coração, mas eu era apenas uma sombra esquia a beira das águas.

Aquela pedra a beira do riacho que não tinha nome, foi à testemunha ocular do meu primeiro beijo de amor, aquela pedra me jurou silêncio eterno, jurou nunca revelar o meu segredo, contudo; neste dia, quebro o nosso acordo ao revelar nesta crônica nossos segredos. Quantas saudades trago no meu peito, saudades de um tempo esquecido que não volta mais, tempo que se afogou nas tranquilas águas daquele riacho.

Lembro-me que fui o confidente da bela musa, fui o grande amigo, mesmo sendo rejeitado, eu era o amigo sempre presente; meus lábios sequiosos pelos lábios dela buscavam um beijo de amor, mas ela me evitava e não me queria, ainda sim eu a venerei, doce imagem que ainda vaga nos meus pensamentos.

A inquietante lembrança vem repousar no cofre da memoria, teima ao lado da lembrança do riacho, na contemplação do curso sem fim daquelas águas já esquecidas, “ Observe”, dizia ela, “ o som da correnteza beijando a pedra fria, e os raios do sol sendo refletido na face da água.”

Hoje é um dia de lembranças e recordações, tempo de pensamentos imperfeitos, hoje me recordo com lágrimas nos olhos, o tempo da minha bela infância.

O velho riacho não existe mais, a grande pedra foi removida, já não faz parte daquele cenário. Hoje um mar de concreto toma conta da paisagem, o velho riacho morreu e se transformou em um fétido córrego, cheio de imundícias e lixo; os peixes morreram junto com a inocência das crianças.

Minha alma de poeta chorou ao ver a antiga fotografia daquele riacho, mais ao fundo havia um bambuzal, meus dedos percorrem a fotografia antiga, como se quisesse sentir novamente as impressões daquele momento, tentei com muito esforço recordar de como era o cheiro do mato, tentei recordar o som dos pássaros cantando na copa das árvores, mas foi um esforço inútil, não há reflexo na minha memoria dessas lembranças.

Outra foto mais recente que vi, me encheu de agonia e desprazer, fez o meu coração e minha alma gritarem dentro de mim. Como eu disse anteriormente, o riacho não existe mais, deu lugar a um fétido córrego no fundo do que parece um pequeno bairro, um amontoado de casas sem reboco, todas jogando os seus rejeitos fecais nas águas negras daquele córrego, nada mais tenho a dizer, apenas lamento que o meu riacho não exista mais.

A lembrança ficou na memoria, lembranças de tudo o que vivi ali, nas silenciosas margens daquele pedacinho de paraíso que não existe mais.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 15/07/2015
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