A Morte da Irmã Felícia


Meus amigos devem de se alembrar da Irmã Felícia, aquela freira ruim que só falta de fôlego que me maltratava no convento. Pensem numa velha ruim.
Apesar de todos os meus defeitos ela não tinha o direito de me humilhar daquele jeito, ainda mais quando se autoproclamava serva do Senhor.
Certa feita, quando reclamei que o colchão em que eu dormia estava mofado, a maldita disse "você não tinha nem um colchão furado pra deitar em cima quando estava em casa e agora vem botar banca aqui?"
Tudo era motivo para a megera me espezinhar. De outra vez uma outra Irmã me deu umas roupas usadas que ela havia trazido do Sul e a desgraçada da velha ficou dizendo "essa aí chegou aqui com a roupa do corpo."
Eu ficava muito triste. Depois saí e a vida seguiu.
A Irmã Felícia faltou soltar fogos no dia da minha partida. Ficou muito satisfeita.
Mas um dia é da caça e outro do caçador, neste caso um leão.

A Igreja tem um negócio de enviar seus subordinados em missão por diversos lugares e à Irmã Felícia coube ser missionária na África, o bispo mandou e fez-se o despacho. Mas um passarinho me contou que ela não aproveitou as belezas do continente africano não, poucos dias após sua chegada ela topou com um leão na estrada.
O felino achou muito invocado aquela velha gorda andando de costas (pensou que a cara da bruxa era uma bunda) mas foi o jeito atacar, a caça estava pouca e ele era pai de família, precisava botar comida dentro de casa.
Com um magnífico salto ele pulou em cima da Irmã Felícia, sacudiu pra lá e pra cá, depois provou. "ô carne ruim, égua!" Exclamou e os urubus deram risada, gostavam de carniça mas aquela ali tinha passado do ponto.

O leão pensou bem antes de carregar o corpo pra toca. Mas levou. Quando chegou em casa a leoa só faltou dar nele, era muita atrevessença do marido levar aquela carne dura para ela e os filhotes dela. E foi ela mesma, em toda a sua beleza selvagem, caçar coisa melhor para os filhotes.
Antes deu uma bela patada no corpo gordo que ele foi parar longe.
Dizem que continua lá até hoje, a terra recusou-se a comer. Quanto à alma, no céu não entrou porque tinha sido ruim demais e no inferno não passou do portão porque o Cão não aceitou. Deve de andar por aí, penando, à procura de quem lhe acenda uma vela ou reze em sua intenção. Que o Diabo a carregue.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 21/07/2015
Reeditado em 23/07/2015
Código do texto: T5319156
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