Na frente do meu AP mora um casal que já possui netas.
 
Uma delas, quando cheguei, olhou para mim e mostrou a língua.
A jovem mãe indagou:
_ O que você fez?
A menininha assustada fez que nada fez.
 
Afinal de contas, o que ela fez?
Enxergou um cara cansado, sem sorrir, talvez sério demais.
Ansioso por descansar, preferi não puxar papo com a baixinha, observei a inocente alma jamais imaginando iniciar um diálogo.
Essa atitude encheu o saquinho da garotinha, ela apenas expressou que aguardava mais de mim, alguma gentileza, uma ação cortês, qualquer comportamento civilizado.
Por que não?
 
As crianças ficam frustradas e confusas. Nessa fase de crescimento não entendem o que torna os adultos tão chatos, sisudos, introspectivos.
Que mundo é esse o qual promete abraçá-las?
 
Imediatamente a netinha do casal vizinho resolveu protestar.
Se ninguém pune o mau humor dos adultos, ela mandou seu recado.
Mostrou a linguinha, disse que assim não pode, exigiu respeito, alegria, otimismo, não deixou passar a habitual valorização da rotina, repetição pura, absurda ilusão.
 
A vigilante criança tinha razão.
Ela mostrou a língua, eu mereci.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 23/07/2015
Reeditado em 23/07/2015
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