A Bicicleta do Véi
Essa me aconteceu tem uns anos já, acabei de tirar da gaveta das comédias.
Onde eu trabalhava, pelas minhas vinte e poucas primaveras, era uma rua deserta que dava para outras ruas desertas. Eu transitava por lá numa boa, aliás, como em qualquer outro lugar. Um adolescente magro, tatuado, só de calção em cima de uma bicicleta para mim é um adolescente magro, tatuado, só de calção em cima de uma bicicleta. Cada um se veste como se sentir bem. E se um dia eu encontrar um assaltante vou lhe fazer uma lavagem cerebral que ele vai sair da rua direto para a escola.
Apois. No dia do ocorrido fui eu que passei por ladrona.
Na hora do almoço, quando eu ia subindo o alto, pingo d'ameidia, vi um velhinho em um dilema: ele queria apanhar uns pedaços de compensado no chão mas não conseguia equilibrar a bicicleta. Se é que se podia chamar aquilo de bicicleta, a pobre era tão velha, tão enferrujada, tão sofrida que tava pedindo a Deus para ser jogada no lixo.
E o véi no drama; quando se abaixava para pegar o material a bicicleta caía por cima dele.
Eu sou besta assumida; não posso ver alguém em apuros que vou logo atrás de ajudar.
Peguei, me aproximei à moda de alma, leve e silenciosa, segurei a bicicleta do velho pelo guidão enferrujado e a sela rasgada mode o pobre poder juntar o compensado e amarrar na garupa.
Oh, rapaz. Pra que. O velhinho se alevantou muito ligeiro, tomou a relíquia das minhas mãos e me encarou de cara fechada, com ar de desafio.
Rapaz, eu fiquei só olhando pra cara dele em princípios de risada. Meus sapatos valiam mais que a bicicleta dele mas tudo bem, saí como cheguei, almamente.
Tá certo, o velho. Não devemos nos iludir pelas aparências. Pra que mais arrumados que os engravatados da política que metem a mão no bolso da gente sem sequer pedir licença?
Essa me aconteceu tem uns anos já, acabei de tirar da gaveta das comédias.
Onde eu trabalhava, pelas minhas vinte e poucas primaveras, era uma rua deserta que dava para outras ruas desertas. Eu transitava por lá numa boa, aliás, como em qualquer outro lugar. Um adolescente magro, tatuado, só de calção em cima de uma bicicleta para mim é um adolescente magro, tatuado, só de calção em cima de uma bicicleta. Cada um se veste como se sentir bem. E se um dia eu encontrar um assaltante vou lhe fazer uma lavagem cerebral que ele vai sair da rua direto para a escola.
Apois. No dia do ocorrido fui eu que passei por ladrona.
Na hora do almoço, quando eu ia subindo o alto, pingo d'ameidia, vi um velhinho em um dilema: ele queria apanhar uns pedaços de compensado no chão mas não conseguia equilibrar a bicicleta. Se é que se podia chamar aquilo de bicicleta, a pobre era tão velha, tão enferrujada, tão sofrida que tava pedindo a Deus para ser jogada no lixo.
E o véi no drama; quando se abaixava para pegar o material a bicicleta caía por cima dele.
Eu sou besta assumida; não posso ver alguém em apuros que vou logo atrás de ajudar.
Peguei, me aproximei à moda de alma, leve e silenciosa, segurei a bicicleta do velho pelo guidão enferrujado e a sela rasgada mode o pobre poder juntar o compensado e amarrar na garupa.
Oh, rapaz. Pra que. O velhinho se alevantou muito ligeiro, tomou a relíquia das minhas mãos e me encarou de cara fechada, com ar de desafio.
Rapaz, eu fiquei só olhando pra cara dele em princípios de risada. Meus sapatos valiam mais que a bicicleta dele mas tudo bem, saí como cheguei, almamente.
Tá certo, o velho. Não devemos nos iludir pelas aparências. Pra que mais arrumados que os engravatados da política que metem a mão no bolso da gente sem sequer pedir licença?