ENCANTO

Quando eu era jovem, há bem pouco tempo, encantei-me com a música “Summer Breeze” e isto foi lá em 1973. Estudava eu no antigo “Centro de Formação de Pilotos Militares” em Natal, Rio Grande do Norte. Esta música entrou na minha cabeça de tal maneira que, passados mais de quatro décadas, não me canso de encantar-me com ela. Alem da beleza da música, as circunstâncias fizeram o resto do serviço do encantamento: a juventude, os sonhos e o lugar paradisíaco. Nesta época de ouro de nossa vida havia outros encantamentos, novos amigos, escola, formação, emprego. Por tudo isto nós festejávamos muito. Vieram outras músicas. Nós encantávamos com pessoas, coisas e fatos. As coisas foram mudando. Os fatos foram mudando e as pessoas foram se somando à medida que os anos acumulavam-se sobre os nossos ombros. Os encantamentos já não eram tão frequentes. Os fatos repetiam-se teimosamente. As circunstâncias já nem eram tão favoráveis e rareavam. Percebi que o encantamento se dá quando acontece o alinhamento dos astros, metaforicamente. É àquela hora determinada, naquele lugar especial e no momento que a mente está conectada naquele agente, que pode ser pessoa, coisa ou fato. Como os fatos se repetem e as coisas hoje também não tem tanto glamour, restam às pessoas pra se encantar. Nesta altura da vida, são as pessoas que mais nos encantam: Os filhos, os netos e os amigos. Pra eles é um “querer bem” incondicional. O encanto é neles, mas não é deles, pertence a nós. O encanto é uma emoção que tem substância, e, sendo nosso, podemos fazer dele o que quisermos. Podemos citá-lo, exaltá-lo, brindá-lo, festejá-lo, curti-lo e GUARDÁ-LO. É nosso! Não raramente o encantamento passa despercebido pela pessoa que é a razão do encantamento, mas isto não o diminui. Voltando lá em 73, percebi que as pessoas, coisas e fatos tinham mais intensidade, pois era a época das descobertas. Hoje, quais são as descobertas? Quais são as novidades? Qual é o pioneirismo? Existe algo de novo? E é aí que Deus nos surpreende: Ainda existe o tempo de encantar-se, e, esta descoberta é um dos encantos. E o maior deles é o encanto pelas pessoas. Por isso que os pais se encantam pelos filhos que nascem; os avós se encantam pelos netos que nascem; as pessoas encantam-se pelos novos amigos que fazem. Nesta dinâmica, não são as coisas e fatos que curam as pessoas, são as pessoas que curam as pessoas. Entretanto, o encanto é unidirecional e não requer reciprocidade, ele é o que é. É da natureza humana.

SÉRGIO CLOS - JUL 2015