Poesia batucada

Fico me perguntando às vezes se eu sou a única pessoa nesse mundo - de grande espaço para percorrer e pequeno colo para deitar - que tem trilha sonora para todos os momentos. Todos. Os que se foram e os que virão. Momentos que nem sempre são meus. Fico imaginando a história de cada um que passa por mim na rua, de cada um que esbarra os lábios nos meus, de cada um que troca palavras comigo. Fico pensando em que tipo de música traduz seus sentimentos, que tipo de voz conversa com seus corações, aguda ou grave, não sei. Mas gosto de acreditar na beleza de suas trajetórias, ricas de aventuras ou tabus, com certa convicção nas melodias que agradam seus ouvidos.

Músicas dizem muito sobre as pessoas. Elas têm o dom de, em apenas um trecho, significar sensações diferentes dependendo do humor. É como se elas te esvaziassem na tristeza e te preenchessem na alegria. Nada como uma boa música para um bom momento. Por isso, elas são assim tão nostálgicas, tão cheias de memórias antigas e sentimentos empoeirados.

Música é som de fundo para saudade que não se explica, paixão que não se aquieta e solidão que faz padecer. E, ainda assim, nos mantém ali, absortos e afundados em seus mil significados, em suas mil maneiras de nos fazer sentir alguma coisa em algum lugar do corpo ou na alma inteira. Mas quando se trata de alguém, nós sentimos tudo junto e não há vontade firmemente disposta a desfazer o vínculo de uma música com uma pessoa. Pior ainda quando a música é a preferida e a pessoa a que deveria ser esquecida. Música perdida.

E continuemos com nossos rocks, pops e punks para não dizer que não falei dos pagodes, sambas e axés. Mas o funk também é música, então aqui registro sua marca. Afinal, música é parte de nossas histórias. A cada parágrafo, uma poesia batucada.