Disparate

Quem aqui já respondeu disparate? Eu já e muitas vezes. às mais novas vou explicar do que se trata:

Disparate era um caderninho enfeitado, cheio de figurinhas onde as meninas escreviam perguntas de caráter íntimo e pessoal para as amigas e as inimigas responderem. Era uma maneira peculiar de saber da vida das outras e, obviamente, mangar. "Fulana disse que o prato preferido dela é lasanha, uma catraia daquela, nunca comeu lasanha na vida!"
Uma pergunta que nunca faltava: "Você é virgem?" Abaixo lia-se, em várias cores e grafias, sim, sim, sim, sim, uma mais bruta respondeu "ô pergunta besta, claro que eu sou". Se alguma respondesse que não, era um assombro, Queria-se logo saber quem era a celebridade. 

As meninas de hoje dariam risada da nossa ingenuidade. No meu tempo moça menstruada estava "doente", sendo dispensada das aulas de educação física. Se alguma fosse flagrada com um absorvente na bolsa ou a saia manchada era um constrangimento medonho, era quase mórbida a vergonha de ser mulher. 

Quando o amor chegava no coração a gente escrevia no quadro negro "fulana e _ _ _ _ _", oferecia uma música romântica na rádio, "de fulana para um alguém na Vila Azul". Havia os que ofereciam "de um alguém para outro alguém". Só hoje, enquanto escrevia esta crônica, compreendi tratar-se de um código amoroso.

O meu primeiro amor adolescente, daqueles que incendeiam o coração, era um locutor de rádio, horroroso, tinha uma voz horrível mas para mim, que estava apaixonada, era lindo. Nunca tivemos nenhum contato além de suspiros e troca de olhares. O bicho cagava goma demais da conta, que tinha ficado com fulana, cicrana e beltrana, dando inclusive nomes aos bois.  De mim o catimbozeiro nunca se aproximou, mais por medo de o meu pai descobrir, me dar uma surra das galáxias e matar ele depois.
E assim foi minha vida amorosa, de carniça em carniça. Desconfio que, no quesito homem, eu tinha um apetite vulturino. 

Mas nós estávamos falando do disparate. Eu adorava responder e trollar: 
Qual o seu prato preferido?
- O cheio.
Você é virgem?
- Sou capricórnio.
Deixe uma pergunta para a dona desse disparate.
- Você não tem o que fazer não?

Ê iê, era difícil ser adolescente naquele tempo. Hoje as moças têm mais liberdade de dizer o que quiser, ficar com quem quiser, vestir o que quiser. Agradeçam a Deus pelos novos tempos, garotas.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 28/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
Código do texto: T5326414
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.