A vida que não se replica

Todo dia, ao ligar o noticiário, nos deparamos com as “mesmas” informações malditas: assassinato, estupro, acidentes fatais, assaltos; as aspas propositalmente colocadas na palavra mesmas apenas se referem aos corriqueiros acontecimentos funestos, pois em cada caso existe uma vítima e um círculo afetivo diferente que derrama suas lágrimas publicamente ante uma justiça muda ou uma postura de indiferença por parte da população.

Não há como fugir dessa realidade lastimável do mundo, e também não há como se habituar a tanta tragédia. Por mais que a morte seja um momento comum à espécie, não podemos nos acostumar a assisti-la apenas como uma reportagem passageira que logo é esquecida quando se muda de canal. O próprio fato da notícia ser sucinta, bem resumida, impele nas pessoas um pensamento fugaz e não suscita a reflexão sobre o ocorrido, deixando aos parentes a angústia da perda. Muitos dos que morreram em ocasiões banais tinham muito a oferecer ao mundo e não somente aos seus amigos íntimos; muitos morrem ao relento, em ambientes sem testemunhas ou câmeras de vigilância, e fica por isso mesmo.

Para evitar tanta indiferença é só se colocar no lugar da vítima, imaginar-se sofrendo a dor da perda do seu ente querido; com isso você perceberá que a vida deve sim ser preservada com todas as forças e potências. Renegá-la em prol de uma existência incerta num mundo celestial, aceitar os fatos como se fossem naturais é a postura dos covardes que não se posicionam em defesa de um sistema judicial mais eficaz contra a impunidade dos órgãos responsáveis pela segurança e manutenção das leis que regem a população.

As leis obsoletas e arbitrárias – com suas brechas em cada assertiva – devem ser reformuladas com o acompanhamento de todos os interessados em querer efetivar uma ação mais veemente contra aqueles que praticam as barbáries na sociedade. E não só a severidade das novas máximas serão responsáveis por uma mudança na conduta dos agressores, é preciso investir em educação, acompanhamento familiar e psicológico aos futuros cidadãos com a finalidade de orientar-lhe para o bem, para as ações que proporcionem a fraternidade. Mas para isso é preciso repensar o próprio sistema econômico em que se está inserido – no caso o capitalismo/liberalismo que se sustenta pela luta entre classes e a competição entre todos – com o intento de modificar o comportamento humano.

Em suma é uma discussão que abrange todas as instâncias sociais (política, educação, família) e não apenas uma nova legislação para se chegar a uma sociedade mais ordenada e sem espaço para a mortalidade gratuita. E principalmente, não vos esqueceis dos mortos de ontem e dos que morreram hoje, pois amanhã poderá ser você, ou eu!

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 30/07/2015
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