Rotina

E todas as noites são de percepções diferentes, mas aparentemente estava tudo igual na noite anterior.

Ela acorda todos os dias atrasada, vasculha o guarda-roupa e dentro do possível sai apresentável, carregando uma fruta para manter a ideia de alimentação saudável, e crente que será um dia cheio, mas talvez surpreendente. Acorda os filhos, e os arruma rapidamente. A van chega e se despede do primogênito, com um beijo e um "te amo" e orientações sobre bom comportamento, evitando recados na agenda. Caminha com a pequena para escola e juntas fazem orações espontâneas e ao término, ela sempre diz: "Que linda nossa oração né?!"... A deixa na escola, recebe um abraço a nível "bateria master", como se ela soubesse o quanto a mãe precisava disso para se manter bem. E ao caminho do trabalho, tenta se concentrar na leitura de um romance, interrompida inúmeras vezes; e ouve novas bandas descoberta no spotify.

"Bate" o cartão sempre com ao menos dois minutos atrasada, e se encaminha para a "sala do tédio". Telefone grita, caixa de e-mail repleta de spam e apresentações que nem lhe dizem respeito, e o celular que resolve competir no quesito volume da campainha. Pouco a pouco, se acumulam tarefas, e vem a pior parte... Aguentar durante o dia todo uma série interminável de assuntos supérfluos, pesquisas no google sobre a idade de sub celebridades, ou uma nova fofoca do ego.

De vez em quando surge algum assunto relativamente suportável, mas em pouco tempo a ignorância vence, e o que deveria ser assunto comum, se torna discussão, e percebe que não deve ser messsssmo deste mundo. A voz do gerente incomoda, o riso forçado da colega estressa, e assim segue, com o breve intervalo que tem para o almoço e enfim cias que deseja e agradece por sustentar o dia.

O fone é seu salvador, e ao som de Amy (que há pouco tempo não conhecia, e mesmo não sabendo do que se trata) sente a emoção na voz e melodia... A curiosidade fica aguçada e descobrindo a real tradução, conclui "Pobre Amy...ela sofria"; E assim segue a seleção entre pagodes, Mpb, e pop rock. (Música sempre traz alívio).

E de repente são 18 h, e ela se ajeita com alguma carona... E então chega em casa e percebe em meio aos caos e as mesmices, que ali é feliz.

Da cozinha vem o cheiro de uma comida fresca e sempre boa, e seus filhos correm para abraça-la, disputando também a colocação na competição pelo pedido mais rápido ao celular... Seu filho criativo, sempre tem algo novo a dizer a respeito de games, música eletrônica, ou alguma matéria do History (e ela ama esta tendência "culta" e perspicaz de garoto)... e sua filha fofa, sempre pergunta se a ama e pede um abraço, e ao mesmo tempo é tão geniosa que parece uma adolescente em sua pior fase... E o que poderia ser melhor que isso?? Nada! Mas admite que ainda seria mais completa se tivesse com seus planos definidos.. Se seu vale cap de domingo tivesse sido contemplado com uma moto, 10 mil reais ou ainda o prêmio principal que resolveria aparentemente todos os seus problemas. Se não precisasse morar na casa da mãe, se não precisasse de carona, se tivesse o dinheiro suficiente para oferecer os estudos, lazer e atividades extras aos pequenos sem preocupações.

E as horas no relógio noturno passam na velocidade da luz, e de repente é tempo só para o banho e cama.

Uma olhada no face, conversas rápidas no whats, e a sensação de que nada foi feito. Não estudou para o concurso, não concluiu a pesquisa do coaching, não aprendeu nada novo, não fez uma sobremesa sequer.

Mas sempre ao se deitar, agradece pelo que teve, pelo que é e pelo que virá.

São sempre noites com percepções diferentes, mas não necessariamente isto é ruim... é só sua rotina. Porque ao fim de tudo, isso é simplesmente Ela.

Fernanda Pinheiro
Enviado por Fernanda Pinheiro em 04/08/2015
Reeditado em 04/08/2015
Código do texto: T5334200
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