EU, PAI

Lá na juventude, sendo pai pela primeira vez, mulher barriguda, e eu na “seca”. Nem insistia muito, pois poderia ser desconfortável pra ela. Eu aguentei. Tudo em prol do meu filho. Tadinho, nem havia nascido ainda e eu estava achando que ele estava atrapalhando. Claro que não, é que a gente pensa mais com a cabeça de baixo, coisa da natureza. Então ele nasceu, com carinha de joelho, mas era bonitinho. Já estava até gostando dele. Pensei: Terei que trabalhar dobrado, mas tudo bem. Minha mulher, “tadinha dela”, naquele suador danado, estava bastante feliz. Coisa boa. Parir, só mulher mesmo. Se fôssemos nós que tivéssemos que parir, a raça humana estaria extinta há muito tempo.

E o cara de joelho cresceu e ficou bonitinho! Virei babão dele. Adorava leva-lo na creche. As mães vinham fazer carinho nele e diziam: - Que lindinho!

Certa ocasião eu disse pra uma delas:

- Ele tem telefone, não quer o número? As mães me olhavam desconfiadas e davam um sorrisinho amarelo. Pensava comigo: Numa dessas quem sabe? Minha mulher acabou cortando o meu barato e só ela levava o guri na creche. Dentre os muitos sacrifícios este foi mais um deles. Eta mulher ciumenta!

E quando estávamos nós dois lá no quarto no bem bom, o piá vinha correndo e se atirava entre nós dois:

- Quero dormir com vocês hoje!

- Putz, tá certo guri, deita aí.

Ele fica faceiro da vida e eu com a sensação de ter feito mais um sacrifício.

Na praia, no verão, lá ia eu no supermercado durante a tarde, e nos dias de semana. Levava o guri junto. Durante a semana as casadas ficavam solteiras enquanto os maridos ficavam trabalhando na cidade. Meio abobado das ideias(como dizia minha tia) eu procurava algum flerte e quando estava quase conseguindo, o guri me puxava pela camisa e dizia:

- Pai, compra um danoninho pra mim?

Quebrava o encanto.

Quando dava carona pra alguma gata e ela perguntava se eu era casado, eu dizia que não. Ela olhava no banco de trás do carro tinha um carrinho de criança e uma “sombrinha” de mulher. Imediatamente ela dizia:

- Pode me deixar aqui mesmo que já está bom. Obrigada pela carona...

Agora o cara de joelho cresceu e está cuidando da vida dele.

A idade chegou(a minha) e lembrei que todas as minhas incursões não deram em nada.

Há alguns dias fui ao meu advogado pra assinar uns papéis de uma causa que havia ganhado, com o pensamento de que com aquela grana ajeitaria a vida do meu filho. Eu não preciso mais de dinheiro, a minha vida está feita. Enquanto aguardava, dei uns cochilos e a secretária (uma morenaça tri bonita)olhou-me e disse:

- Tá com soninho?

Fiz-me de desentendido, mas entendendo perfeitamente a reação dela. Ela me via apenas como um velhinho com sono. O seu compadecimento irritou-me. Eu lá sou homem de tirar soninho? Deu vontade de dizer pra ela: Vou te mostrar o soninho! Mas não disse, só pensei.

Virei evangélico. É verdade! Mas ninguém acredita em mim! A última vez que saí todo de preto e com a Bíblia na mão, eu disse pra mulher:

- Vou ao culto.

Ela gritou lá da cozinha:

- Não esquece a camisinha!

Descobri que eu tinha uma vidente dentro de casa. Lembrei que havia guardado uma camisinha e fui procurá-la. De tão antiga ela tinha se esfarelado e na embalagem estava escrito: “Camisa de Vênus”. Bota antiga nisso!

Mesmo assim fui. Ao ligar o carro, caiu a ficha. Pensei comigo: agora não dá mais, não estou mais dando no couro. Voltei pra casa, coloquei meu pijama e fui ver a novela da Globo. O guri já havia saído pra balada com o mulherio. E eu ainda tive de aturar o risinho irônico da minha mulher vidente!