MINHA PEQUENA ODISSEIA

Então foi isso.

Uma voz insistente vinda e eu sei bem de onde, me fez fazer coisas horríveis.

Num automatismo doentio, lá fui eu obedecer aos comandos que vinham ao meu ouvido.

Apanhei um trambolhão que estava atrás da porta e o energizei. O barulho era infernal. Liguei um duto flexível e fui sugar cadáveres de ácaros, pés de baratas, fios tecidos de aranha, pulgas falecidas e resquícios de pele humana. Fui a todos os cantos e escaninhos daquele ambiente pra que o trabalho mal feito não me denunciasse. Um horror.

Não satisfeito apanhei uma lança e numa extremidade adaptei um pano de algodão carcomido pelo tempo, umedeci-o e o fiz deslizar sobre a superfície porcelanizada em movimentos de vai e vem. Joguei um pouco de lavanda, tal qual um bruxo quando faz a sua mágica de consagração. Ainda assim não me contive.

Apanhei uma pequena máquina de ferro quente e a fiz passear sobre os tecidos de fibra sintética, fazendo uma leve pressão sobre os mesmos até estes tivessem uma aparência agradável.

Ufa! Consegui!

Orgulhoso, estufei o peito e bradei aos quatros cantos:

- Mulher! Já limpei a sala. Ah! Também passei a roupa que estava no varal. Já posso jogar bola com meus amigos?