Corredores do SUS

- Dourtor, por favor acredite em mim! Vejo ratos o tempo todo, eles passam roçando seus rabos asquerosos sobre meus pés como fossem gatos de estima, sobem pela parede e passeiam pela sala mesmo quando tem visitas em casa doutor! O medico coloca a mão no queixo e anda em circulos pelo consultório, olha no relógio e usa de um antigo cacoete, colocando a lingua para fora três vezes e abrindo imensamente a boca. – Bem meu caro eu sou Dentista sabe? Entrei no consultório para pedir uma almotolia de álcool emprestada e acabei te ouvindo, infelizmente não posso fazer nada para ajudá-lo, mas me lembro de um caso parecido, foi uma irmã da minha madrinha, se chamava Zefa do Agouro. A mulher era tão carregada de coisa ruim que quando ela passava no meio de um jardim a sombra dela ia pisando e matando as flores sem a menor piedade, a bicha era caolha e possuia de nascença uma verruga na ponta do nariz que mais parecia uma casa de cupim! Antes da conclusão daquela conversa o titular do consultório entrou, apertou a mão do colega, mas não pediu desculpas pelo atraso, o paciente deitado de barriga para cima assistiu com apreeensão o medico calçar luvas e manipular uma enorme seringa vazia, achou estranho, mas seu tacanho conhecimento de direitos lhe abortou a coragem de saber a que procedimento seria submetido. – Vira para a parede que vai doer! Disse secamente o medico enquato o paciente chorando por dentro seus pavores, porém deixou que a coisa acontecesse. “Deve ser um tratamento adequado”, pensou com lágrimas nos olhos enquanto a agulha vazava o osso da espinha, após um tempo torturador o medico que apresenta sinais nitidos de truculência sibilou curtas palavras, - Pronto seu Alfredo, daqui a dez dias pode buscar o resultado! Neste momento o paciente se levantou, corado e perdendo o ar respondeu que se chamava Alexandre. – Mas como Alexandre porra, aqui está Alfredo! Gritou o medico, um grito que reverberou além da porta. Batidas se ouviram a seguir, simultaneamente a porta se abriu. – Doutor Alfredo sou eu! Estava aqui fora aguardando, mas dois enfermeiros me puxaram para o consultório do lado dizendo que meu nome era Alexandre. O outro paciente levantou-se com a mão no peito. – Ai meu Deus! Quê isso que o senhor fez comigo doutor! Minha coluna está doendo doutor e agora, doutor eu vou morrer doutor?! – Calma caramba! Disse o medico. – E você Alfredo verdadeiro, peça na recepção para remarcar a sua Punção Lombar, só temos uma caixa e o material precisa ser esterilizado. Alfredo visivelmente tonto segurou a porta que era empurrada pelo ar condicionado e falou ; - Tô aguentando não doutor, vou é dormir aqui no banco. – E eu doutor será que estou ficando louco mesmo? Vejo rato em todos os lugares, chego no consultório para ver o Psiquiatra e aparece um dentista, depois chega o Psiquiatra que é Neurologista e um arranca minhas tripas com uma agulha, agora me chamo outro cara e outro cara me chama?! Quê isso Doutor? O medico perdeu por hora o semblante sisudo e encarou o paciente. – Eu não sei te responder , mesmo que soubesse não responderia. O Psicologo é no final do corredor e meu horário já está encerrado.