Stalker
 
Ao abrir os olhos de manhã cedo já pego o meu smartphone. Durmo com ele à cabeceira. Digito a senha, olho o whattsapp. Que horas ele acessou? Onde estava? Com quem estava conversando quando ficava online e não falava comigo?

Preciso de respostas e as respostas podem me ferir. Preciso me ferir.

No trânsito pesquiso as notícias sobre ele. Ser uma pessoa pública facilita as coisas. Olho os sites, o google, o Facebook dele, quem comentou, quem curtiu, quem postou. Analiso os perfis dos amigos dele. Investigo os seus passos. Conheço-o mais que a mim mesmo.
Sei tudo sobre ele. Tudo. Conheço sua família, seus amigos, seus hábitos.
Adoro quando saímos juntos, ele é sociável e tem apreço pela minha companhia. Ele é tão transparente. Falo um pouco de mim para induzi-lo a falar de si. Não minto nunca, ele é sagaz e decerto perceberia. Eu apenas omito. A pasta secreta onde guardo todas as suas fotos, dados, RG, CPF, conta bancária, endereço.
Claro que eu sei quanto ele tem em dinheiro e, sim, sei onde ele mora. Já estive muitas vezes em frente ao seu prédio, às vezes disfarçado. Sei que horas ele sai pela manhã e a que horas retorna à noite.
Conheço as eventuais namoradas. Eu desejaria matá-las mas não perco meu tempo com tais vermes.
Invento que tenho namorada para não levantar suspeitas do quanto eu sou vidrado nele, como ele é tudo para mim, é mais que Deus, é o meu ídolo.
Ah! se eu tivesse a senha do email dele. Seria a glória. Queria também instalar câmeras no seu apartamento para monitorá-lo. Como eu consigo isso?
Sou poderoso. Sou um leão cercando a presa em meio à natureza selvagem. A vida dele está em minhas mãos. Eu posso matá-lo, não posso? Claro que sim. Então eu tenho poder de vida e morte sobre ele.
Eu lhe faria mal? Talvez. Muito provavelmente se primeiro ele fizesse a mim.

A senha do email. Preciso encontrar um bom hacker que faça o serviço e não deixe rastros. Ele nunca vai perceber. Não é do tipo que altera a senha.

Eu já quis me libertar. Já apaguei o telefone dele mas os números permaneceram nítidos e vivos na minha cabeça. Já tentei a técnica dos alcoólicos anônimos: mais vinte e quatro horas. Mas então ele aparecia com aquele seu jeito vulnerável e eu voltava de novo para o olho do furacão. Até que parei de lutar contra mim mesmo. E me entreguei de uma vez ao exercício de persegui-lo em silêncio.

Eu não sou homossexual. Não tenho desejos carnais por ele nem por ninguém. Sou assexuado. Não curto pornografia, não tenho fantasias, não uso termos chulos.

Estou ansioso. Preciso da senha. Preciso saber.
Eu só preciso saber.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 21/08/2015
Reeditado em 21/08/2015
Código do texto: T5354473
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