Amado
 
Saiu para fumar. A noite já ia alta.
Gostava de sair àquelas horas, da quietude do condomínio, do silêncio noturno.
Acendeu um cigarro e avançou, recuando em seguida. Estava serenando e ela estava gripada.
Adorava chuva e detestava ficar doente.
Correu para baixo da árvore jovem do jardim. Encostou-se ao tronco rugoso com todo o seu corpo.
Nessas horas pensava que era uma lagartixa.

Roçou a testa e as faces nas folhas verdes.
No apartamento o filme aguardava o seu retorno.
Ah! o cinema francês... adorava. Assistia por partes, como um bom vinho que se bebe lentamente.
A música estava em sua cabeça. Assim como o seu amor.

Pensava nele com desejo e paixão. Amava-o com toda a sua alma.
Na noite anterior tiveram um desentendimento, ela chorou, pensou que nunca mais ia vê-lo.
Dobrou a dose da medicação para dormir.
No dia seguinte despertou decidida, tinha sonhado com ele a noite inteira.
Correu atrás, argumentou. Dissera palavras tolas e a amizade que tinham era mais forte.
Ele estava viajando, não respondeu às suas mensagens.
Ia ficar tudo bem, ela tinha certeza.

O vento frio levantava sua saia e assanhava os seus cabelos. Veria o seu amado pra semana, estava com saudades do seu cheiro, do seu rosto bonito, daquele corpo que invadia suas noites em mil maneiras de fazer amor.

Estendeu o braço para sentir a chuva deslizar pela sua pele. O cigarro estava acabando.
Lembrou-se de um antepassado que morrera sob uma árvore, em noite de tempestade, quando voltava do roçado. Pensou em escrever um novo fim para ele.
Escreveria finais felizes para todos os mortos que pedissem.
Escreveria um final feliz para ela e seu amor.

Sim, seriam felizes. Era a lógica do sonho.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 22/08/2015
Reeditado em 23/08/2015
Código do texto: T5355766
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