O MENINO QUE ROUBAVA LIVROS

Menimo pobre, paupérrimo, na verdade, da periferia de Brasília, morava tão perto e ao mesmo tempo distante daquele cenário pomposo, de luxúria e extravagâncias mostrado na TV, Gilmar não tinha nada, nunca teve absolutamente nada, era um verdadeiro pé-de-chinelo, nem mochila tinha, levava os poucos materiais escolares dentro de um saco vazio de arroz, andava uma grande distância para chegar à escola, ia de havaianas encardidas mesmo, fazer o que, o pobre coitado não tinha tênis nem sapatos.

O garoto tinha lá seus sonhos, não era bom aluno, sua vida não tinha nada de encanto, estudava porque tinha que estudar e era feliz só para não ser triste, um belo dia teve uma descoberta que por acaso lhe mudaria os pensamentos, algo que lhe acrescentou sonhos capazes de transformar sua vida, Gilmar foi apresentado ao mundo dos gibis, é, isso mesmo, das estórias em quadrinhos, encontrou na rua uma dessas revistinhas, rasgada, conseguiu ler somente uma parte da estorinha, pois o gibi estava rasgado, mas, mesmo assim, ficou encantado, queria saber o final da estória. Com muito custo conseguiu juntar um dinheirinho e comprar na banca, uma dessas revistinhas, no primeiro dia, o encanto se consumou, leu de cabo a rabo umas dez vezes o gibi, no dia seguinte, leu de novo, com uma semana já tinha enjoado daquela revistinha, precisava de mais dinheiro para adquirir outra, talvez, não sei se por sorte do destino, o menino que caminhava muito para ir a escola, encontrou um dinheiro na rua, o pensamento que veio a mente foi instantâneo – comprar gibis – não deu outra, com o dinheiro achado comprou mais nove, leu os dez gibis umas dez vezes, estava encantado pela leitura.

Gilmar não tinha mais como comprar gibis, afinal, não é todo dia que se acha dinheiro na rua, queria ler mais, tinha que pensar em algo, deveria haver outra solução, lembrou da biblioteca, ´´isso,`` foi até lá e ouviu da moça que ali só tinha livros e que ele poderia pegar emprestado somente um por mês, não se interessou, estava indo embora e quando pensou, ´´porque não,`` voltou e pegou o livro sem muitas pretensões, ao chegar em casa, já que não tinha nada para fazer,resolveu ler uma página somente, quando deu por si, a estória já lhe envolvia, percebeu que um livro era como se fosse um gibi, só que muito mais completo, muito mais abrangente e durador, foi outra paixão arrebatadora, a partir daí, sua vida se transformou, melhorou o jeito de falar e entender as coisas, passou a enxergar o mundo de outra forma, melhorou na escola e sua mente se abriu para o mundo, um livro por mês era muito pouco para quem os devorava a cada dia e como não tinha dinheiro para comprar, é como ele diz, não roubava, mas pegava emprestado escondido.

O pobre menino cresceu, passou num concurso público, fez faculdade e qualquer dia desses, montará uma biblioteca naquela periferia de Brasília para devolver e retribuir o que sempre guardou com todo o carinho do mundo e que com certeza lhe impulsionou para a vida.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 28/08/2015
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