O DIREITO DE IR

Procurei o tal do túnel de luz, confesso que não encontrei.

Quando acordei tinha um pessoal me apertando, me fincando, era muito incômodo. Ouvi a voz de alguém dizendo: - Graças a Deus! Era o meu filho junto a minha cama. Olhei ao redor, tudo estava como antes, nada mudara.

Já se passaram seis meses.

Aquele soro e aquele dreno já nem os sentia mais. Faziam parte do meu corpo. O pior é conviver com as escaras. Todos os dias elas me mudam de posição. Às vezes elas esquecem.

Certo dia eu pedi para elas colocar a minha cama junto à janela pra eu admirar o céu. Nem todas fazem isto pra mim.

Outro dia ouvi meu filho conversar com o médico a repeito de mim. Disseram eles que fariam de tudo pra me manter viva. Pensei comigo: Viva? Isto não é vida!

Pelo que me lembro, foram meia dúzia de paradas cardíacas, me disseram.

Já vivi o suficiente e já desisti há muito tempo. Não tem sentido eu ficar neste estado. Sou eu quem mais sofre. Como são egoístas. Eles não pensam em mim. Pra mim já deu. Chega! O que fazer? Será que eles não entendem?

Já não consigo mais falar, são sussurros. Não tenho mais forças. Chega de morfina! É desumano não me deixar ir!

Como dizer pra eles que, quando eu tiver outra parada, pra que não me reanimem mais?

Oh Senhor Deus, sempre me fiz de incrédula, mas era só pra provocar o Senhor. O Senhor sabe que não tem mais solução o meu caso. Eles só estão pensando na perda deles. Preciso libertar-me deste corpo. Prolongar pra quê?

- Eu tenho o direito de morrer!

- Mãe! A senhora está falando alto e claro! Isto é um milagre!

- Filho, me promete uma coisa.

- Fala mãe.

- Eu estou implorando! Se me der outra parada cardíaca, não me reanima. Pelo amor de Deus! Promete?

- Prometo...

- Obrigado filho. Eu te amo...