Ler na própria livraria

Ultimamente dei para ler na própria livraria. Isto é: ler o livro todo, sem comprar nem nada. Já fazia isso há alguns anos, quando não tinha mesmo dinheiro suficiente para comprá-los. Agora a coisa já melhorou um pouco e, vez ou outra, eu até consigo pagar por um livro. Acontece que a vontade de ler continua muito maior do que o dinheiro que eu posso gastar, então sempre há aqueles livros que eu gostaria muito de ler, mas que não posso comprá-los, sob pena de provocar um rombo no meu orçamento. Mas como eu tenho um tempinho livre na hora do almoço, e como há uma livraria perto do meu trabalho, e como há algumas mesas que estão lá justamente para que eu faça isso, eu aproveito para ler alguns livros na própria livraria.

Não qualquer livro, evidentemente. É melhor que sejam livros um pouco mais finos (e por livro fino entendam alguma coisa ali entre o nanoconto e Guerra e Paz). De preferência, gêneros breves, como o conto ou a crônica, textos que seja possível ler do começo ao fim ali mesmo, em uma única sentada, sem precisar voltar páginas para retomar o fio da meada. Até porque, em geral eu não passo mais que 15 ou 20 minutos por dia nessa leitura. Chego, pego o livro, que eu tive a cara de pau de deixar marcado na página que estava lendo, e vou me sentar.

Aí tem um problema, porque boa parte das livrarias não tem muito lugar para você se sentar, e por vezes acontece de estarem todos ocupados, inclusive por pessoas que não estão lendo coisa alguma, mas apenas tirando um cochilo, e às vezes até roncando. Mas com sorte você arruma um espaço e pode ler à vontade, sem que ninguém venha tirar satisfação, pelo menos era assim comigo antes de escrever esse texto, vamos ver agora. Claro, isso não me exime do sentimento de culpa, eu me sinto dando um calote na editora e, pior ainda, no escritor, que ganha 10% por livro vendido, e ainda por cima vem um sujeito que lê o livro sem comprar. Mas puxa, eu faço propaganda do que leio, converso com meus amigos e tudo. Se eles vão comprar o livro... bão, aí já é outra história.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 09/09/2015
Código do texto: T5376345
Classificação de conteúdo: seguro