Acasos, Helena e eu

Ela sonhava grande. Uma tarde dessas me falou sorrindo que algumas vezes é necessário sair de si mesmo, e de algum modo não convencional, ser outro. Ponderei ao ouvi-la, percebi que sua determinação era de causar espanto. Então a ouvi em silêncio sua bem intencionada colocação de menina perspicaz, enquanto mastigava um sanduíche de queijo brie. – A vida nos obriga sair da gente. Ainda que seja ilusoriamente, uma forma vulnerável e escapista, mas a gente tem que ser hidra nesse mundo cão. - Ela limpava o canto da boca com o guardanapo com a destreza de quem toma mingau em copo duplo, num ônibus em movimento. Senti na sua verdade, que talvez, seja uma maneira de ser menos escravo das formas, com fortes chances de provar os riscos assinalados pelo desejo de liberdade. Ser hidra. Esse era um conselho que nunca tinha escutado.