Café com Helena

Ela era forte, mas tinha um coração. Dessa vez me contou um segredo bobo, durante o intervalo do noticiário - Sabe moça, tem dias que a gente tem que engolir seco o que sente. Sabe aquela pessoa, que parece que te quer e depois finge que não quer, porque tem medo de querer? - Sorri com a compreensão de quem parece já ter vivido a mesma situação. E depois do conselho de hidra, esperava ávida mais uma de suas perspicacidades. Segurei a xícara com firmeza, engoli o café e aguardei a sua "sacada". Ela passou o cabelo por trás da orelha, inclinou a cabeça e falou baixinho como se ninguém mais a tivesse escutando. - Aprendi a disfarçar, e disfarço bem. Mas às vezes, mesmo cabisbaixa, sinto aquele cheiro doce se aproximando... então, sabe o que faço? Finjo que também não quero. Mas eu bem que queria querer. Não é medo não. É atitude. – Percebi no seu enredo de “disfarce” uma ponta de angústia e fragilidade. Ela estava amando. Seu segredo soava mais um desabafo de menina que arrumava os encalços de uma paixão não correspondida, do que o enredo da figura firme e bem resolvida que ela queria parecer. Mas não parou por ali. Retirou a xícara da mesa equilibrando o pires, sorriu e acrescentou: “A vida é difícil, a gente tem que ser difícil nesse mundo que se resolve tudo com um clic, moça.” Depois disso, saiu pisando firme por entre as mesas. Compreendi que a sua frágil estratégia, era uma forma de autodefesa, que muitas vezes nos motiva a adotar, para sair do alvo das vastas desilusões que a vida nos brinda. Quem nunca disfarçou?! Pedras, pedras, pedras...