Lana e Clarck
---- Até agora não consigo acreditar... Você consegue entender isso? Ele disse que iria embora, e foi mesmo! Eu tinha que contar para você.
A voz de Lana era a única coisa que perturbava a paz naquele pequeno cemitério. Todas as tardes, pontualmente as 17:00h Lana chegava, trazia sempre consigo uma flor e muitas novidades. Frivolidades do cotidiano, segredos do coração e até mesmo um ou outro assunto realmente importante que eram discutidos bem em frente a tumba 9 do quadrante 46.
---- Eu disse que ele iria se arrepender se fosse embora! Disse que se ele passasse pela porta que não precisaria mais voltar... Faz uma semana e ele nem mesmo telefonou! Poxa! Será que sou tão ruim assim?
Lana fazia perguntas tolas, e o silêncio era a única resposta que precisava. A única resposta que aceitaria naquele local. Enquanto os mortos continuassem em silêncio, ela continuaria a questionar tudo o que não desejava saber.
---- Sabe o que é pior? É que brigamos por causa de você! Vê se pode uma coisa dessas, ele achou que eu estava o traindo com você Clarck! Como isso seria possível?
Clarck continuava sepultado. Esteve sepultado nos últimos 80 anos. Lana nunca o conheceu na vida real, nunca foram parentes, nem amigos, e nem nada desse gênero. Ele havia vivido muito antes da era de Internet, e tudo o que Lana sabia sobre ele era o que estava escrito em sua lápide.
---- Como é que eu poderia explicar nossas conversas pra ele? Ele nunca iria entender! Quer saber? Só você me entende...
Um dia Lana passava em frente ao cemitério e resolveu entrar. Passeando pelos vastos corredores, encontrou um tumulo antigo, cujo rosto na foto amarelada parecia triste e solitário. Morrera aos 30 anos por causas desconhecidas. Além da foto, chamavam a atenção, gravados com relevo em uma placa de cobre os dizeres: “Amigo para todas as horas”.
---- Desde a nossa primeira conversa, eu sabia que haveriam mais... Muitas mais... Mas o que sinto por você não é esse tipo de amor, entende? É claro que eu te amo. Acho que qualquer namorado poderá me largar e eu sempre vou me recuperar. Mas você não, nunca tive um amigo como você. E acho que não suportaria te perder.
Todos os dias Lana abre seu coração diante de uma tonelada de mármore antigo, e dos restos mortais de um homem desconhecido, sem nem mesmo imaginar que Clarck havia nascido surdo.
=NuNuNO==
(Que as vezes se questiona se alguém está ouvindo seus pensamentos)