Revelação

Era sábado. No oitavo andar de um prédio velho, estava deitada na cama de seu quarto. Ana vivia sozinha. De repente, um barulho, o bater de algo ressoava distante (pléc-pléc). No entant incomodava, sentiu-se inquieta. Olhou ao redor da escrivaninha (pléc-pléc). Era um ruído vivo, elétrico, angustiante. O que pelo amor de Deus era aquilo? Observou minuciosamente todos os cantos. Deteve-se, porém, na janela (pléc-pléc). Viu uma libélula tentando ultrapassar a divisa transparente entre seu quarto e a noite chuvosa. Perguntou-lhe o que queria. Redarguiu com o mesmo pléc-pléc. Abriu a janela para que saísse. No entanto, o pobre animal via apenas à sua frente, não se atentava para os lados nem para o frescor da noite. Com toda boa vontade, a segurou pelas asas e sussurrou:

- Por que não vais lá fora? O mundo anseia por ti. Preferes esse quarto monótono?

Respondeu-lhe tentando escapar das mãos. Escancarou a janela, pôs o ser na palma da mão. Para surpresa da moça, não protestou, deixou-se pousar. Ofereceu a libélula ao mundo. Olhou para baixo. Apesar da chuva, viu com seus olhos verdes pessoas dançando e cantando na rua, no prédio ao lado um casal se amava escandalosamente. A cidade explodia em aromas, cores, sabores, amores. Ana deu-se conta que não ouvia mais barulho algum. A libélula liberta voou, voou.