Abril sem fim

Era abril de um ano qualquer, uma noite de um dia qualquer. Você estava lá e, por acaso, eu também. Eu me lembro do seu xadrez, da sua dança e do seu whisky. Depois disso, me lembro de, inconscientemente, te desejar. Eu não posso concluir outra coisa senão que tivemos sorte. Sorte de estarmos sob as mesmas circunstâncias, porque tanta coisa poderia ter acontecido de outra forma. E, se quer saber, nem gosto de pensar nisso. Eu prefiro pensar naquele primeiro beijo e no quanto ele me deixou extasiada, ou naquele cachecol e o quanto eu usei ele só para sentir, de alguma maneira, você em mim. Embora eu esteja inclinada a dizer que eu pensava em você desde então, eu não tinha desconfiado do tamanho desse sentimento e de como ele crescera assim, tão estranhamente rápido.

Há coisas que talvez você não saiba, porque eu nunca te deixei saber. E eu acredito que certas coisas ainda devem ficar subentendidas, por entrelinhas, só gravitando na imaginação porque, honestamente, são indizíveis. Não é fácil descrever a sensação de estar com você. Ou a maneira como você me olha. Ou o embrulho no meu estômago quando discutimos. E não é que eu não tenha muito a dizer sobre você. Na verdade, você daria um livro. Quiçá, com direito a best-seller e inspiração para filme. Eu tenho um pouco de você em cada detalhe dos meus dias. Às vezes, uma música. Outras, um poema. E logo me invade uma saudade de você, deitada sobre meus lençóis, me perturbando a paciência, me fazendo perder a cabeça.

De todas as coisas que eu não te disse até hoje, a que eu mais sinto a necessidade de dizer é que eu valorizo você. Valorizo o fato de você se preocupar comigo quando eu não te respondo ou quando eu estou sozinha te esperando em um terminal escuro. Valorizo o fato de você escolher estar aqui e de querer estar aqui. Valorizo a sua compreensão, seus empenhos e o fato de dizer que me ama sem fazer disso algo frívolo. E valorizo, principalmente, o fato de você ter feito de uma noite de um dia qualquer, um abril sem fim.