Leitores, essa eu precisava de ter muito tempo livre para escrever. Porque é uma estória mais visual e transmitir a vocês as imagens engraçadas que tenho na cabeça é algo que requer mestria.
 
Pelos meus quatro anos de idade aconteceu o casamento de uma prima por parte de pai. Convido-os a visualizarem uma casa de taipa rebocada e pintada, as portas baixas e os tios altos. A família do meu pai é toda assim, homens e mulheres altos. E tinha um oitão bem grande com um terreiro bem varridinho onde as mesas e cadeiras foram montadas, debaixo do pé de lírio cheiroso que ficava branquinho em noite de lua.
 
Apois. Os preparativos começaram foi cedo. O casório foi ameidia e o sanfoneiro começou a tocar por volta de uma hora. A mãe levou a mim e à Vanda e nos colocou dentro de um quartinho com uma panela grande e duas colheres. Quando em vez ela aparecia com um pedação de carne, cuscuz, macaxeira e rebolava dentro da panela, parecia uma leoa alimentando a cria. E eu abarcava mais a Vanda.
Os padrinhos da noiva, pessoas de posses da Boa Viagem, deram de presente um bode para o banquete de casamento. Acontece que o tio Antão era vidrado em comer não sei o que dentro da cabeça do bicho, não gosto nem de imaginar. E para isso era preciso manter o crânio do animal inteiro maaaas a tia Fransquinha, na hora do preparo, se esqueceu desse requinte do tio e partiu em duas bandas a cabeça do bode. Estava tão aperreada naquela dia, a pobre, que passou L'oreal (lourival, como diz o pai) na cabeça pensando que fosse xampu, ficou com o cabelo amarelo mijo. Como se não bastasse, lembrou-se da panela das batatas que estava no fogo e ia esmagaiar, saiu correndo nua de dentro do banheiro, "Cumadi Teresa, as batata!", kkkkk, ainda bem que só tinha mulher na cozinha.
 
Quando foi mais tarde, todo mundo bem miudinho no arrasta-pé, chegou o dono da casa, muito alto, magrão, as bila do zói verde e o branco em vez de branco tava vermelho da cachaça. Melado tava o pai, o tio tava bêbo mesmo.
O noivo, um amarelinho empombado, ficou logo desconfiado e se abraçou com a noiva. Vai que o tio desfazia o casório ali mesmo. Era bem capaz, a raça do pai é valente e dá o maior valor a uma confusão.
 
O tio deu um golpe de vista em cima da mesa e não achou a cabeça do bode. Fuzilou a tia com os olhos chega a pobre tremeu. Como tinha muita gente no terreiro e estavam um pouco distantes ele susteve os olhos nos olhos da tia e começou a apontar para a própria cabeça dizendo "cadê?" A tia entendeu e faltou se cagar, ele queria a cabeça do bode inteira bem na hora que um gaiato passou com uma banda da dita cuja bem na frente do tio Antão.
 
Oh, rapaz. Pra que. O tio disse um nome daqueles bem feios e bem alto e puxou a faca para matar a tia que a essa hora já tinha se escondido, louríssima, na casa de alguma vizinha. Aí foi confusão pra todo lado, teve bêbo que levou pro lado pessoal e outras peixeiras foram arrastadas, mesa virada, comida pelo chão e os cachorros só guvejando, esperando os donos pararem de brigar para encherem o bucho. Aliás cachorro adora uma briga, late feito doido e teve muito cão a tomar chute na titela e sair ganindo.
No ente a noiva montou no cavalo, o amarelinho montou atrás e partiram para a lua de mel no meio do mato, deixando o pau quebrar naquela cabeça de alto, ora mais, certos, eles!
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 12/09/2015
Reeditado em 12/09/2015
Código do texto: T5379610
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