Cidade em sombras

Quais foram os dias em que a espera lhe foi gratificante?

Você ficava de prontidão a qualquer chamado que fosse direto e inspirador que caracterizasse o chamador como forte !

Você pintava seu nome nas frestas em que era observada e, como não podia sair do lugar, atraía quem pudesse no malabarismo enigmático que suas imagens desenhavam no ar.

Você, gigante nas luzes, copiava o sol em seu trajeto pelo ocidente, roubando os amarelos todos que o céu servia, imaginando que se fosse um tapete no alto, muitos mais desejosos em suas ruas a ajudariam a roubá-lo e a espalhá-lo em seu sorriso.

Você não escondeu essa trama contra os incautos que povoam seus monumentos e suas obras grandiosas ou de palha apenas.

Você quase se vangloria em pouca soberba como se isso fosse virtude e traça novas ruas de cristal e poesia ante a multidão que lhe conhece e ainda , bêbada de vinagre, obedece seus traços, esbarrando esquinas e marcos encardidos pelo tempo.

Você se esquece que há planos em todos os que habitam seus cantos, tristes ou realizados em suas vontades e planos. Mas, todos que moram em seu manto conhecem desde o projeto que lhe marcaram a juventude e tateiam as mudanças consagradas pelas quais você se obrigou...

Quando faltar luz o breu revelará novos encantos? Ou será que a escuridão é um desejo para que nem seja real a decadência da matéria que a compõem ?

Que besteira ! Você é só uma cidade velha, cheia de histórias e paisagens corriqueiras . Mas é maravilhosa para quem a escolhe pelo resto de seu tempo e vive a franqueza dos dias e a embriaguez das noites só suas.

Marcos Palma
Enviado por Marcos Palma em 14/09/2015
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