Terapia digital

Ufa, finalmente!

Finalmente um espaço em que eu sou anônima. Agora, sim, posso abrir meu coração.

Minha psicóloga me disse várias vezes para não remoer males. Mas, talvez eu tenha esquecido de contar pra ela que eu não tenho os mesmos ouvidos que dou. Ou não tenho os mesmos ombros que ofereço. Ou, simplesmente, ninguém pra perguntar: " o que foi?" ou "o que aconteceu?" ou "você está bem?" para que eu possa desfiar o meu rosário, derramar umas lágrimas e, enfim, esquecer tudo, poupando meu estômago de descargas de ácido desnecessárias e meu coração de arroubos aflitos.

Aí, você rola a página de uma rede social de cima a baixo, tentando encontrar uma resposta, algo, alguém, enfim, uma chance de extravasar o que te aperta por dentro. Mas nada. Tudo parece correr, pra lá e pra cá e você parece ser pequena demais para ser enxergada.

Então, você pensa em fazer um post "desabafatório", mas se lembra que, ao mesmo tempo, não quer se expor tanto, nem parecer tão perdida e desesperada quanto você está.

O que te resta, afinal?

Te resta escrever um texto anônimo, onde nem todos te alcançam e que a maioria das pessoas que te conhece não acessa - ou, se acessa, você está devidamente protegida pelo seu codinome e pelo seu direito de não se revelar por inteiro. Apenas por dentro.

Dessa forma, você continua sendo a pessoa que não sofre, que não sente, que passa despercebida no mundo "real". Você passa a ter um cantinho onde você pode ser humana, pode sofrer, chorar, lamentar um monte e depois voltar a sorrir, num ciclo perfeitamente natural, mas incompatível com a sua realidade.

Nesse canto, você finalmente encontra uma sombra para se encostar. Acolhimento para suas palavras, seus anseios, seus choros, suas besteiras. Basta usar os dedos, basta saber escrever e alinhar as palavras.

Bendita a volta do destino que me fez escritora. Isso ainda vai salvar a minha existência.