Da primavera.

E floresce de novo.

Ouço os pássaros que passam próximos da minha janela.

Uma sutil presença de Deus. Será o canto do sabiá? Beija-flor? Bem-te-vi?

Não importa.

Eles vêm, cada um, anunciando a chegada de mais um tempo em que Deus, na sua generosidade suprema, nos dá outras oportunidades. Mais uma vez, a sua compaixão derramada sobre a Terra.

Enquanto isso os pássaros continuam cantando, felizes, na área coletiva desse prédio.

Parece que conseguem ainda cantar com alguma certeza. Aquela certeza de que a vida vence apesar da nossa ignorância, do nosso egoísmo e da nossa indiferença frente a tantas dores e horrores.

E São Cosme e Damião resolvem deixar o seu dia para daqui alguns dias, como se deixando que as pessoas se apercebam da beleza do tempo, das flores que insistem em espalhar o seu perfume por todos os cantos – para os bons e para os maus, para os sensatos e para os mesquinhos. Só depois, então, as crianças receberão as suas balas, quem sabe um pedaço de bolo de chocolate com algum granulado, junto da atenção de algum adulto que, certa vez, procurou a INTERCESSÃO desses santos para resolver problemas humanamente insolúveis. Haverão de sorrir, olhando a partir das nuvens macias, felizes ao observarem crianças pobres comendo doces, vários doces.

É primavera de novo!

Que tenhamos a coragem de deixar o sol entrar no coração. Nem que seja um solzinho tímido, tênue, sem jeito e nos ajude a ter compaixão, a exercitar o perdão, a abrir o sorriso sem nenhuma malícia, a dar abraços quentes e mais demorados, a olhar nos olhos. Coragem para partilhar o pão, para falar bem dos outros – ou então não falar nada. Ânimo para não ter vergonha de ser bom, sensível, compreensivo, maduro na fé.

Que possamos falar para o nosso filho que é bom abrirmos a portinha da gaiola e deixarmos o passarinho fugir. Gostar do animal é o contrário do que querer vê-lo na prisão.

Que a primavera nos traga a sensatez para pararmos de atirar pedras para todos os cantos como se fôssemos tão justos assim.

Que a primavera seja, mais uma vez, uma oportunidade que o Criador nos dá para sermos verdadeiramente criaturas divinas, com alguma centelha de luz.

Uma feliz primavera para todos.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 23/09/2015
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