A CARTEIRA

Já eram quase nove da noite, faltavam alguns minutos apenas, Gabriel como sempre iria se atrasar, logo hoje, no dia marcado para conhecer os pais de Andressa e oficializar o namoro, não daria mais para ir de ônibus, olhou quanto tinha na carteira e ao invés de colocá-la no bolso a guardou novamente na gaveta da cômoda, não queria e nem estava podendo gastar, mas, não tinha outro jeito, teria que ir de taxi para não se atrasar muito, foi logo ligando, deu o endereço certinho, pediu urgência porque estava atrasado, desligou o celular e foi mais uma vez ao espelho para conferir e dar os últimos retoques no cabelo e na roupa nova, queria estar impecável, causar uma boa impressão na família da moça, lembrou da carteira, quando ia pegá-la, o celular toca, o coração dispara, fora engano, nisso, um veículo buzina lá fora, era o taxi, pega o celular, o molho de chaves e sai de casa correndo.

Já dentro do veículo em movimento, informou o destino, tudo certinho, pede um pouco mais de rapidez ao senhor que dirige, passa a mão na testa suada, encosta melhor no banco para respirar fundo e afastar um pouco o nervosismo, fecha os olhos procurando se concentrar, o carro sobe e desce ladeira, o mais rápido que pode conforme o cliente pediu, já estava quase chegando e de repente, os olhos que estavam cerrados se arregalam, Gabriel já estava todo tranquilo e, numa fração de segundos a calmaria deu lugar a mais um novo desespero, ainda maior que o anterior, passou rapidamente as mãos pelos bolsos e nada, olhou inutilmente para o acento, tinha deixado a bendita carteira em casa, e agora, como pagaria a corrida, não teria coragem de pedir à família da moça, pegaria muito mal, no primeiro dia, não, isso não, que agonia, por ironia do destino estava passando agora em frente a uma agência bancária, mas, sem carteira, olhou para o motorista imaginando dialogar uma saída, logo, desanimou, se intimidou com aquela aparência carrancuda e mal humorada, o que fazer então, pensou ingenuamente em pedir que parasse, abrir a porta e sair correndo, também não teria coragem, olhou desesperado pela janela e não viu nenhum conhecido, na verdade, não viu ninguém passando, já estava chegando, ligar pedindo para adiar o jantar que já estava pronto poderia por tudo a perder, Andressa, que passou a semana organizando tudo nos mínimos detalhes, não o perdoaria, o enrolado Gabriel não encontrou opções, se atrasou mais uma hora e para quem não estava podendo gastar e só andava de ônibus, teve que arcar com três corridas de taxi e de uma só vez.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 23/09/2015
Código do texto: T5391798
Classificação de conteúdo: seguro