Se eu morresse com a idade do meu pai teria vivido pouco mais de vinte anos. Se morresse com a idade de minha mãe, viveria ainda  cerca de trinta.
     Não sei se tenho medo de morrer. Acho que não. Quando penso nisso, há um misto de mistério que assusta, mas acalenta.
     Se morresse daqui a pouco tempo, que levaria comigo? E pergunto-o sabendo que iria apenas um corpo vestido no caixão, provavelmente com o terno das cerimônias. A pergunta é maior que o corpo, a roupa e o caixão. Que levaria? Que construí nesta vida? Que tenho feito do dom que Deus me deu?
     Quando penso nos que amo e que deixaria, o corpo retorce-se em dor. De fato não quero deixá-los porque os amo, e quando se ama não se quer acabar com  essa coisa tão bonita que é o amor. Mas quando penso que também iria ao encontro do meu Deus que tanto amo, e que provavelmente iria experimentar a maravilha do amor mais misterioso e mais sutil, não sei bem que pensar. 
     Mas penso. E penso que ninguém fica nesta vida por ficar. O tempo passa e voa. Voa tão rápido como os segundos. Voa quase sem que lhe atinemos o tempo e a duração. 
     Que mistério tão insigne, tão difícil de entender, tão estranhamente doloroso e tão grande ao mesmo tempo!