O Restaurante Chique
 
Uma vez eu fui a um clube acolá fazer um negócio e, como o lugar é muito grande e lindo, fiquei atarantada com tantas portas e emburaquei na primeira.
Oh, rapaz. Entrei justo no restaurante do clube, bem na hora do almoço. Lotado de gente rica, a nata da hight society cearense, um criatura tocando piano, os garçons passando com aquelas bandejas cobertas, coisa de filme.
Aí pronto, eu já estava com vergonha de ter entrado e fiquei ainda mais envergonhada de sair.
Um garçon, percebendo o meu embaraço, aproximou-se e sugeriu gentilmente que eu me sentasse. Me sentei.

"Não, senhorita, essa mesa já está reservada, por favor, me acompanhe :-) "

Oh, leitores. Tivesse um buraco eu teria entrado dentro. me levantei morta e sepultada de vergonha e ele me levou a uma mesa para duas pessoas. Me sentei novamente sem tirar a bolsa do ombro, mau costume de quem come nos cantos e tem medo de esquecer as coisas ou o mais fácil, ser roubada. E o gentil senhor observando minha matutice.
Nisso eu já tinha me lembrado que estava com o cartão de crédito porque dinheiro vivo eu não tinha nem uma banda. 
Pois muito que bem. O garçon sacou não sei de onde o "menu". Me deu vontade de pedir o mais barato mas como rico tem excentricidades esse podia ser nome de um prato bem caro, ia nem fazer que nem o homem do bis*, então cacei o almoço executivo: quarenta reais. Foi o jeito.

"Me traga esse, seu Zé."

"E para beber, a senhorita deseja algo?"

"Uma água mineral. Sem gás. Por favor."

Aí o garçon saiu e eu fiquei espiando o povo. Deputados, intelectuais ricos, uma fineza. E eu com o meu vestidinho de camponesa, livros, sandalinhas de rabicho.
Quando eu dei fé, lá se vinha o garçon com a minha bandeja. Colocou o meu almoço executivo sobre a mesa com um sorriso amável. Não era sorriso de quem está mangando não, tem pobre que é mais fino que muito milionário.
Serviu a minha água em uma taça de cristal, pediu licença e se retirou. Aí era a hora de eu abarcar mas qual, quando eu destampei a bandeja, adivinhem como era o almoço de quarenta reais: uma cumbuca de arroz, uma sobrecoxa de frango, uma fatia de bacon tão fina que decerto o cozinheiro cortou as unhas quando foi fatiar e uma saladinha.
Oh, rapaz. Eu comecei a achar graça. Porque quando a coisa não tem jeito só me resta dar risada.
Nem comi tudo, não me sentia à vontade ali. Paguei, agradeci e saí bem invisívelzinha. Mas o restaurante é lindo, viu, pense! 


* O homem do bis: 
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Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 29/09/2015
Reeditado em 01/10/2015
Código do texto: T5398649
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