Tarde em Salvador

Tarde quente em Salvador, e eu de gravata dentro do carro que acabara de alugar no aeroporto, e como não sou amigo de ar condicionado, afrouxo o nó e dou duas dobras nas mangas da camisa, e abro o vidro da janela para aliviar . No banco de trás a pasta com as coisas de trabalho, e eu já pensando na piscina do hotel, e numa boa cerveja gelada para o final do dia. Tinha tarefas a tratar em diversas empresas do local, para saber se tinham potencial para atender a montadora, numa tarefa que a 'Ford" chamava de " Baianização",pois havia um compromisso com o governo baiano.
Dois rapazes começam a fazer capoeira na minha frente, quando o farol se fecha, e mais um tocando o berimbau...dim,dim, dim...dim, dim, dim...pensei; Que saco ,meu ! Não gosto dessas danças de piruetas , não vejo graça nenhuma. Berimbau, então...parece violão de uma corda só ...! Com o mormaço da tarde, o humor não estava dos melhores, é claro que berimbau não é um violão , e até que é interessante, com uma bonita estética.
Os rapazes param de dançar e se dirigem aos motoristas ;
- Dá um real aí !
Pensei ; Que diferença de São Paulo ,onde se pede com educação.
- Dou coisa nenhuma, não pedi pra vocês ficarem pulando na minha frente.
(Geralmente sou gentil, e ajudo, mas a forma como pediram foi irritante ).
Ninguém se perde em Salvador, pois é uma península, praia em quase todos os lados da cidade, e eu me hospedara em Itapuã, e como tudo está bem sinalizado, aprende-se as direções com facilidade. O trânsito não é caótico, mas é preciso muita atenção para não atropelar as pessoas, já que as faixas parecem não existirem para muitos deles.
A noite o Marcos , um colega de "baianização" ,me chamou para visitarmos o Pelourinho, e comermos uma moqueca de camarão , no que aceitei com prazer. O lugar é bonito, respira-se um Brasil colônia, com seus casarões pintados, há muita mendicância, e viciados se aproximam sem rodeios, mas a polícia está sempre atenta, em razão do turismo. Muitos gringos com seus equipamentos sofisticados , filmam e fotografam sem parar, a cidade oferece uma magia difícil de explicar, o velho e o novo se misturam na cultura local.
Um rapaz esquisito se aproxima a nossas costas, falando quase no cangote do Marcos , que estava ao meu lado, que se assusta;
- Descola aí uma lata de leite condensado. ( Parecia um "nóia"). Não sei pra que ele queria a lata, será que iria fazer um pudim ?
Marcos se intimida , e apressa o passo, mas o sujeito não está disposto a desistir, e continua perturbando. Eu já não suporto que me encham o saco, não tenho a mesma paciência, e parei de frente com firmeza.
- Some daqui se não você vai se ferrar , desapareça ! Não tem lata "merda" nenhuma ! O cara olhou feio , mas sumiu , deve ter ido perturbar algum gringo, até conseguir o seu intento. O cheiro de urina está presente nas ruelas, e isso não me deixou boa impressão, da falta de higiene.
No restaurante da moqueca ,(se chamava Iemanjá), ao contrário, tudo muito limpo e gostoso, a comida baiana é uma delícia, e é preciso não abusar para evitar o efeito do dia seguinte, mas sou cuidadoso.
Voltamos cansados e satisfeitos para o hotel da praia do Flamengo , logo depois de Itapuã, um lugar maravilhoso. E o farol , então ? Comprei uma réplica, em vermelho e branco, uma beleza , não resisti.
Pois é, apesar do trabalho sempre se dá um jeitinho de conhecer um pouco da cidade, mesmo que a noite.



 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 30/09/2015
Reeditado em 09/05/2017
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