ATENAS E NÓS

Sócrates questionou, questionou, questionou...

Seu colega Platão conjecturou, conjecturou, conjecturou...

Estas formas de vislumbrar o mundo abriu uma janela enorme para o pensamento humano. Sócrates incomodou a aristocracia e questionou a existência dos deuses da Grécia. A democracia ateniense o condenou a morte por isso. Coisas da História. Entretanto o que me chama a atenção foi o fato de a democracia ateniense conviver com a religião e tendo esta como parâmetro para condenar o pensador. É certo que, aqueles que julgaram e condenaram Sócrates, tiveram sobre suas cabeças a força do lobby, coação ou coisa similar. E, veja que interessante: Cristo também foi julgado e condenado “democraticamente”, onde o povo escolheu o bandido Barrabás para ser salvo da cruz.

Sócrates incomodava.

Jesus incomodava.

As conjecturas de Platão provaram, nem todas, que eram razoáveis. Os ensinamentos sim, estes eram relevantes e avançados para a época.

Sócrates morreu questionando. A partir de então o mundo foi inundado por centenas de filósofos ao longo destes dois milênios, repetindo, floreando, sofisticando e parafraseando estes dois pensadores.

Se todos os seres humanos tivessem a oportunidade de dizer o que pensam, na esmagadora maioria seus dizeres se aproximariam do comportamento socrático.

Talvez as pessoas vivessem bem naquela época, pois tinham pouca informação e uma base religiosa bem sólida. Havia muitos deuses e cada Deus cuidava de uma tarefa, tudo teoricamente bem organizado.

Foi uma democracia que durou aproximadamente um século e meio. Em que pese ser o berço da cultura, os gregos faziam de conta que tinham uma democracia e jamais sonhariam que este capricho seria a base para outras nações dois mil anos mais tarde.

Sócrates, Platão e Atenas, muito nos ensinaram, mas nós não aprendemos.

Eliminamos os deuses e ficamos somente com um Deus. E aí então cada povo elegeu o seu e fizemos as guerras por eles.

Sócrates nos ensinou a questionar, entretanto, de que maneira questionamos? Se é que questionamos alguma coisa.

Platão nos abriu uma fresta para pensarmos adiante, e, será que pensamos no nosso futuro ou no futuro dos nossos filhos?

Atenas nos mostrou a incipiente democracia, entretanto, copiamos somente o lado perverso: a força da aristocracia, o lobby e a coação.

E ainda mais: Nós inovamos. Na nossa democracia elegemos os nossos representantes para decidir por nós, mas eles inventaram o regimento interno, o voto de liderança, o apoio partidário, a sustentação política, o acordo, a barganha, a pressão entre os poderes, etc.

Se os gregos sonhassem o que faríamos com a democracia que eles inventaram, ficariam horrorizados e convocariam todos os seus deuses contra nós!